"Meu velho pai"

Do laço antigo fez um balanço

Amarrou na sombra do pinheiro

E o meu jeito alegre e arteiro

Admirava-o com atenção

Depois de bem amarrado

Meu pai pegava logo um pelego

E eu sentava ligeiro

Esperando voar do chão

O céu azul no infinito

Quase tocava com as mãos

Sentia um frio na barriga

Mas alegria no coração

O vento batendo no rosto

Naquelas manhãs de verão

São lembranças guardadas no peito

De uma grande paixão

Da infância querida e amada

Do cheiro de terra molhada

Do milho verde e da enxada

E dos pés descalços no chão

E lá naquelas terras havia

Rio e cachoeira

E muitas flores vermelhas

Em cima das águas a enfeitar

Não havia doces

Nem televisão

Mas pão quentinho

E amoras colhidas pelas minhas mãos

As noites caiam serenas

Ao som da mata morena

E na varanda daquela casa

Meu velho pai contava

As estrelas do firmamento

E ao adentrar no rancho

Que tinha portas vermelhas

Corria pelo chão de madeira

A sombra de um candeeiro

E na cama de colchão de palha

Coberto de linho rosa

Deitava sorridente e prosa

Esperando meu pai contar...

Que as raposas estavam chegando

Para as galinhas roubar

E o sono sem demora

Não me deixava acordada

E antes que adormecesse

Rezava um verso baixinho

Para Deus, Nossa Senhora

E para o anjo da guarda

E nas auroras do dia

Da casa de sala vazia

Pintada de rosa e azul

Meu velho pai acendia

A lenha no fogão

E nele mesmo aquecia

A água para o chimarrão

E do quarto eu já sentia

O cheiro de “pito” e mate campeiro

Então levantava ligeiro

E para a cozinha corria

Meu pai lá estava faceiro

Esperando a luz do dia

Naquele instante o sol nem nascia

Mas se podia escutar

Os pássaros nas parreiras

Inquietos a cantar

E antes da lida do campo

Na terra vermelha de chão

Meu velho pai me dizia

Um versinho em poesia

Que me lembro com emoção

Se eu soubesse meu Deus

Que aquilo tudo era

A tal felicidade

Ficava naquela cidade

E lhe fazia um pedido

Deixe meu pai comigo

Até que eu adormeça

E um dia de novo mereça

Ser de novo criança

Pois jamais perderei a esperança

De tê-lo novamente comigo.

(Autora Adriana França)

Adry Frann
Enviado por Adry Frann em 09/06/2010
Reeditado em 04/10/2021
Código do texto: T2308660
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