Carta em versos, agradecendo ao sogro o empréstimo de quinhentos cruzados
Em 1.º de novembro de 1985
Prezado sogro e amigo
Do peito e do coração,
Mandar-lhe estas poucas linhas
Causa-me grande emoção.
Espero que esta o encontre
Tendo saúde e alegria,
Com Deus – o Grande Arquiteto
Do Universo – que é seu Guia.
Meus votos são extensivos
Também à Dona Laurita,
A qual, sem favor nenhum,
Entre as sogras, é bendita;
Ao Maurício, os cumprimentos
Do cunhado mais querido,
E a quem mais por mim pergunte,
Meu abraço mais amigo.
O motivo desta carta,
Além dos supracitados,
É enviar, em anexo,
Os quinhentos mil cruzados,
Que tão generosamente
A nós nos foram emprestados,
E assim dizer ao senhor:
Ficamos muito obrigados.
É muito certo o ditado
Que desde criança eu ouço:
“Mais vale um amigo na praça
Do que dinheiro no bolso”;
Sendo assim, seria injusto
Furtar-me a esse dever
De agradecer-lhe o favor
E outros favores obter.
Poderia até fazê-lo
Por meio do telefone,
Mas seu simples tilintar
Me deixa às vezes insone;
Deixar que a Marília o use
É coisa que me amedronta,
Pois teria de pedir
Mais quinhentos para a conta.
Aqui em casa vamos bem
De saúde e até dinheiro,
Com o pagamento em dia,
Pareço até fazendeiro;
Se fosse uns tempos atrás,
Gastava na bebedeira,
Mas hoje só guaraná;
Pra que fazer mais besteira?
Quanto ao dinheiro da sogra,
Marília lhe afiança
Que o dito está bem guardado
Na mais segura poupança.
Por ter quebrado esse galho,
Toda a família agradece;
Uma sogra desse jeito
Só elogios merece.
Aqui vou me despedindo,
Porém com muita saudade;
Receba um estreito abraço,
Votos de felicidades.
Que Deus proporcione a todos
Recompensas e alegrias,
É o mais sincero desejo
Do genro e filho
Neemias.