"Cidades Invisíveis"

A ex-primeira dama passou

Pela política e por mim

No corredor. A aparência de

Um milênio: mil, quantos anos!

Ítalo Calvino, escritor italiano

Escreveu no livro título desta

Poesia: em duas cidades gêmeas

Separadas por um rio, ninguém

Sabe ao certo quem é morto

Quem está vivo. Nas ruas seus

Ancestrais se cruzam. Nas

Avenidas, quantas vidas idas

Deixam sangrar. Os motoristas

Olham-se de dentro dos olhos

Sinais vermelhos param os carros

No semáforo. A família dinossauro

Tão igual no ADN do mesmo sal

Passeia no feriado de finados

Há séculos elas se cruzam, caladas

Silenciosos os mortos nascem

São batizados. Casam-se. Têm

Filhos com condicionamentos

Milenares, renovam-se, ovulam

A barriga cresce, nascem para ti os

Umbigos (desde o berço parecem

Estar vivos) plugados no mundo

Globalizado, zumbi. Quantum de

Quantos milênios parecem estar

Deixam estar. Valorizam o patrimônio

Cultural e incentivam o turismo

O shopping center está cheio de

Fantasmas. As mães e as quase-mães

Carregam caladas suas malas em

Busca de companhia futura. O

Shopping um açude, um oásis, um

Deserto de comunicação. Os

Roqueiros tocam seus alaúdes

Nada de novo, tudo cópia vencida

Nas promissórias do tempo

“Viver é prejudicial à saúde”

A juventude se poupa para os

Cosméticos e o cabeleireiro

Narcisos dos palcos, fazem

Músicas como se estivessem no

Século passado. Como se os Beatles

E os Rolling Stones ainda tivessem

Começando na década de sessenta

Por que parecem não querer uma

Identidade própria? Como se não

Soubessem que pertencem a uma

Suposta nova geração. As crianças

Vêem tv em suas mesas brancas de

Há tanto tempo atrás a mais que

Aparentam ter. Aparentados, se

Conhecem de há séculos. Milênios

Preservam-se na tábua de carne, na

Cerveja do sambista. Os pais e os

Avós, exemplos aposentados para

Suas futuras vidas. Nas padarias as

Mães compram pães para o café da

Manhã. Os filhos precisam cuidar de

Seus ativos financeiros tão longínquos

Indecisos, pré-históricos. Homo

Sapiens/demens: parecem sorrir e

Habitar o mundo dos vivos. Em seu

Leito de morte dona Maria pariu

Deu a luz, uma suposta nova vida

Nasceu para preservar os instintos

De há duzentos e cinqüenta mil anos

Uma descendência para chimpanzé

Nenhum botar defeito. Abrigados em

Ativos antepassados os fantasmas

Falam-se e se calam para sempre

Pelo celular. Bláblá.blá!!!

Como se vivos estivessem.

DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 19/04/2010
Reeditado em 01/07/2012
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