O CABOCLO RECORDA SEU PASSADO - DEDICADO AO MEU PAI

Me da saudades daqueles anos atrás

Quando eu morava com meus pais

E tempo que já passou, mas eu nunca esqueço

A vida era difícil, mas lidava com gente seria

Não havia nem fome e nem miséria

Nem esse negocio dia-dia aumenta preço.

Colhia muito arroz, milho e feijão

Era tudo sem adubação

Arava a terra só pescoço no boi, de sol a sol

Em qualquer chiqueiro tinha um capado

Todo pasto tinha cheiro de gado

E o mantimento enchia as tuas e os paios

Devagar tudo foi sumindo com o tempo

Ate as pastagem era puro capim gordura

Carne, leite, queijo era sem faltar

Nas colheitas era tudo mantimento novo

Era de costumes daquele povo

De colher para sobrar

Daqueles tempo que já se foi

Me saudades dos carros de boi

Quando eu avistava da janela da varanda

Aquela boiada bonita e empalheirada

Baia, moira, castanha e pintada

Era só poeira que agente via por aquelas banda

Eu tenho saudades daquelas mula boa

Que os moleiros trazia pra nos

Tropa chibante e faceira para marchar

Tinha as cores que eu mais preferia

Baia, Ruanda, e Turquia

Não contando as que não posso lembrar

Saudade daquelas boiadas de corte

Que vinha daquele norte

Na direção de um capataz

Na frente vinha um no ponteiro

Repicando um berrante faceiro

As boiadas de passo-passo vinham atrás

Saudades das folias de reis, que chegava todo ano

Onde ela passava cantando

O povo ofertava de coração

Frango, leitoa, mantimento e dinheiro

Era todo ano de dezembro a janeiro

Fazia festa de chamar atenção

Saudades dos mutirões de carpina

Trabalha o dia inteiro de camisa molhada

O povo bebia pinga boa saborosa só no pique

Mas era pinga pura que vinha do alambique

E quando chegava a tarde a roça tava toda capinada

Saudades das festas de são João

Eu não esqueço até do bailão

Nem da fogueira que queimava no terreiro até amanhecer

Noite inteira tinha doce, salgado, tudo em liberdade

O povo podia comer a vontade

A noite baile na varanda e na sala dançava o cateretê

Saudade dos trens de ferro que passava ao romper da aurora

Vinha de volta em volta soltando fumaça pelo mundo afora

Pra chegar na estação

Era a noite e o dia inteiro

Carregando carga e passageiro

E ratava aquele colosso de vagão

Tenho saudade quando avista lá no morro

Aqueles bandos de cachorros

Que acompanhava seu dono caçado

E a cachorrada caçava pelo cheiro

E assim esse tempo foi para nunca mais voltar

Me dá uma tristeza só de pensar

De ver esse mundo tão estranho

Tão cheio de gente maldosa e defeito

Faltando vergonha e respeito

Que nunca vi deste tamanho

Onde a consciente e a confiança

Perde cada vez mais a esperança

de retornar a este mundo

A fealdade e aqui sinceridade

Estão desconhecendo a atualidade

Nunca mais voltará aos tempos atraz

Por aqui esse mundo caminha perdido

Assalto e mais assalto de bandido

Ainda carestia e ladroeira

Nesse ritmo que vai

O mundo da perdição nunca mais

Se continuar dessa maneira