Houve um tempo...

Houve um tempo em que eu era...

Guerreiro em pé de guerra,

vento em pé-de-serra,

ferreiro em clima de forja,

martelando a lâmina na bigorna...

Falcão em inércia de mergulho,

chuva e tom de tempestade,

resposta e tom de sarrabulho...

Vulcão em erupção,

mar agitado em cheia...

Ato impensado,

mergulho...

Riso em gargalhada

trem de ferro em

matinada...

barulho.

Hoje, porém...

não sou mais um trem...

Sou mais um barco a vela,

sossêgo de beco,

guerreiro em casamata.

ferreiro de folga,

artista em frente a tela,

falcão pousado ao pico,

chuva mansa na folha,

monge orando na capela.

Mar tranquilo...

por vezes encapelado...

Riso nos olhos e coração

em busca de compreensão...

Tronco seco em muda de estação,

vigia desarmado...

Vivo hoje querendo aprender

tudo que um dia pensei saber...

Minha razão é viver...

a cada segundo esticado...

Se eu puder...

ainda quero saber tudo de novo!

Só para reviver a emoção

de sentir um pouco,

mesmo que tenha que fazer de conta,

que nunca passei da conta...

Mas vale a pena viver,

e crer na força de há,

dentro de cada ser...

Ainda olho por tras das montanhas...

Tentando devendar os mistérios...

do tempo...

Houve um tempo...