Presença do meu pai
Presença do meu pai
O chapéu, o chaveiro, o canivete
O paletó indispensável, os bolsos
Que guardavam o pedaço de fumo
E o maço de papel.
Na rotina, o café à mesa, pela manhã
Os afazeres do dia, as compras e as vendas.
A rede para descansar após o almoço.
A loja, a mercadoria, os fregueses
Os livros de anotações de páginas amarelas
Traziam somas de compras esquecidas
E acrescidas de outras compras envelhecidas
Que não receberia jamais.
Muitas perdas, muitos desenganos, poucos ganhos...
Mas a boa fé que o acompanhava
Fazia dele uma figura amável
Com a bondade infinita
Estampada na face senil.
Na casa, os colóquios com a cara metade
Denunciavam preocupação ante os compromissos
Assumidos para reabastecer o comércio
Que já não podia sobreviver com o “fiado”.
Testa enrugada, voz alterada, feição austera
Que duravam enquanto não havia a necessidade
De um compadre ou de uma comadre...
Uma fugaz aurora que se desvanecia
À medida que mais fregueses chegavam
Para comprar o enxoval das filhas.
Desprendimento duradouro, imortal.
As coisas ficam. As ações ficam.
Só o homem vai...
Vai, deixando como estranhamente
Sigilosas as suas inquietações.
13/08/06 - Dia dos Pais