Propaganda da Vida
PROPAGANDA
DA
VIDA
(Poesia)
Escrito por
Jacques Levin
Sumário.
Ambiente Natural.
Propaganda 4
Poema Antigo 6
Poema Obsoleto 8
Inflação de Vida 9
Os Índios Riem 11
Médicos Voluntários 13
Vantagem Evolucionaria 14
Neoliberalismo 16
Passivo Trabalhista 18
Ambiente Natural 20
500 Anos essa Noite 22
Os Bons Selvagens 24
Viagem.
Século XXI 27
Cães 28
Amigos 29
Pássaro da Manhã 30
Constatando 31
A Longa Viagem de Volta 32
Guerra Biológica 34
Tao da Palavra 36
Thoreau 37
Mulheres.
Mulheres 39
Escadarias de Odessa 40
Tabu do Incesto 43
Vó Coragem 46
Amor Impossível 57
Panfletário.
O Ser Panfletário 48
Aldeia Global 51
Poesia 58
Ação Social 60
Pedra 61
Você, o quê faz? 63
O quê há melhor do que isso? 67
Praga 69
Idealismo 71
Salvação 72
PROPAGANDA.
Quero arrumar um amigo
Para escrever coisas boas sobre mim.
Alguém que me entenda e elogie,
E me apresente a poesia
Em linhas das orelhas de um livro,
Achando uma lógica, uma razão de ser
Um rumo, um fio de senso,
Nessas poesias.
É difícil, dá trabalho,
“criar justificativas, racionalizações,
citar versos felizes,
passar por cima das imperfeições”.
Vejo o amigo fatigado,
Renunciar ao intento de ser
Meu advogado,
Jogar de lado os papéis,
Como um jornal cujas palavras cruzadas,
Sempre nos vencem, no final.
Mas tente, meu amigo, tente,
Não me deixes perdido,
Embaraçado
Achando que a poesia
Não precisa de lógica,
E que pode ser
Sucessão de frases sem sentido.
Podes dizer, por exemplo,
Que hoje os poetas
Viraram publicitários,
Mestres na criação de anúncios,
De clipes, de comerciais,
E que eu,
Modestamente,
Faço propaganda da vida.
POEMA ANTIGO.
Dizem que o Brasil
É o país da fraude
Um país falsificado
Para inglês ver.
Os remédios não são remédios,
Não curam nada, não remediam nada,
São de farinha de milho
Misturada com goma arábica.
A polícia não policia nada,
Não quer nada, não é de nada,
E ainda diz que é mal remunerada.
O governo não governa nada,
Renunciou ao governo,
Diz que o país é ingovernável
E requer reformas já.
O dinheiro é de mentirinha,
Não vale nada, é papel pintado.
E a aposentadoria,
essa é que não vale nada mesmo,
Quando alguém se aposenta
é garantia de continuar trabalhando
Até o final dos tempos.
Dizem que no Brasil
O que funciona bem é o carnaval.
Também pudera,
É o máximo em falsificação,
Povo fantasiado,
Com brilho e lantejoulas,
Povo fingindo que é feliz,
Povo vestido de nobre,
De culote e chinó
Simulando dançar minueto
Enquanto o samba
Come rasgado.
POEMA OBSOLETO.
Bugre
Ogre
Orbe
Úbere
Bérbere
Brigue
Bagre
Brejo
Brasil.
INFLAÇÃO DE VIDA.
A vida perde o valor
E tem que passar mais rápida.
As crianças envelhecem
Bem antes de chegar aos trinta.
Crianças em tudo prematuras,
Em tudo imaturas,
Dormem pelas calçadas
Enroladas em papelões.
Seu tempo corre mais rápido,
Já nascem desempregadas,
Fazem sexo aos oito ou dez,
Aos doze são prostitutas,
Aos quinze assaltantes,
Ou cavalo, pombo correio, mastim.
Aos vinte já são defuntas,
Almas tristes, revoltadas,
Que se evolam do mundo
Sem terem experimentado a vida.
Ou será que é isso a vida?
A única vida,
A única que existe,
A única que podem conhecer.
Uma vida inflacionada,
Das crias, criaturas, crianças,
Que como as tartaruguinhas,
Tentam chegar às águas,
E morrem ao longo das praias,
Sem nunca terem nadado,
E sem conhecer o mar.
OS ÍNDIOS RIEM.
Os índios riem quando as crianças desatinam,
Os índios acham graça quando elas ficam brabas.
Nunca se viu índio bater em criança,
Elas têm a melhor das educações naturais,
Que dinheiro nenhum pode comprar,
- nem em Harvard, nem em Oxford,
ou no Fundão, se encontra melhor,
Com muitas aulas práticas e tradições orais.
A criança faz beicinho, faz manha,
Bate o pezinho,
E o índio morre de dar risada.
A criança se acha o ser
Mais importante do mundo.
O índio deve pensar:
É mais importante que o sol?
É mais importante que o rio?
É mais importante que eu?
Mas não adianta discutir,
É melhor rir
De tanta pretensão.
Então os índios riem
Quando as crianças ficam brabas;
Porque sabem que onde for um
Vão todos.
MÉDICOS VOLUNTÁRIOS.
Coração pronto
A se entregar,
Contra a violência,
Contra a ignorância.
Difícil lutar
E convencer
O violento a não violentar
O ignorante a ver a luz.
Discutir, pra quê?
Melhor fazer,
Trabalho voluntário,
Sem violência.
Tratar feridas,
Sanear.
Enterrar os mortos.
VANTAGEM EVOLUCIONÁRIA.
Não sofrer
É vantagem evolucionária.
Não se arrepender,
Não olhar para trás,
É uma grande vantagem
Fazer o que deve ser feito
Para sobreviver.
Os pais trabalham duro
se estabelecem, garantem o futuro.
As mães têm os seus rebentos,
Lavam pescoços, dão educação.
Quem não tem pai e mãe,
Vai ter que fazer muito mais,
Sofrer muito menos,
se conseguir.
As mães depois não largam os filhos,
As crias, as horas, o investimento,
E querem lhes infernizar a vida,
E controlar cada momento.
Chegam os netos, que beleza!
De novo, novos rebentos,
Os corpos das fêmeas vibram,
Os olhos dos machos brilham,
Que sucesso, que ternura,
Que grande vantagem evolutiva!
NEOLIBERALISMO.
“Livre empresa é isso:
Tem uma mercadoria
Que todo o mundo quer,
Então vamos fazer,
Vamos vender, vamos enricar.
São os dons da natureza,
Que usamos em nosso proveito.
Se o petróleo queima,
Vamos aproveitar.
Se as baleias estão dando sopa,
Vamos fazer sopa de baleias.
Se há plantas que se fizeram,
Nos laboratórios das matas,
Plantas amigas que dão barato,
E passam a ser importantes,
Como importante é a vida,
A comida, o ar, o amor,
Então vamos botar
A indiada para trabalhar,
Vamos refinar e vender.
Vamos encher Hollywood de pó,
De sonhos, de energia.
Se eles nos vendem venenos
Impressos em celulóide,
Devolveremos veneno contido em celofane,
Compactos sonhogramas consistentes
Mais reais que os existentes nos filmes”.
E o dinheiro entra a rodo,
Verdinhas como folhas de relva
Que todo o mundo quer ter,
Para continuar a comprar sonhos,
Venenos, comendas, privilégios,
Fazer fortalezas, comprar mansões,
Criar nações paralelas
Que só se encontram na ilusão do infinito
Que é onde todos os caminhos vão dar.
PASSIVO TRABALHISTA.
Pobre Darwin,
Tão cheio de escrúpulos,
Acabaram inventando
Um darwinismo social,
Para explicar a injustiça:
“É a sobrevivência do mais forte,
Do mais apto, do mais preparado,
Que bota pra trabalhar
Displicentes, ignorantes, relaxados,
Gente sem fibra e pudor...
E agora,
Com tanta automação,
Essa gente é inútil,
É povo ignorante,
É povo desnecessário,
Melhor inventar uma guerra,
Fazer uma limpa geral,
Que seja definitiva,
- a solução final.
Ai entraremos no século
E na era de Aquário
Sem passivo de trabalho.”
Talvez em um canto distante,
Talvez num ponto remoto,
Tenha alguém remexendo a terra,
Plantando grãos guardados em latas,
Fazendo a revolução do silêncio.
Talvez lá esteja Raul Seixas,
Remoçado, vivo e saudável,
Que não fuma, não bebe, e não joga,
Um Raul que faz ginástica e come natural,
Que só toca roque aos sábados
E nos outros dias está criando
A tal de sociedade alternativa.
AMBIENTE NATURAL.
Para os homens é necessário
Criar um ambiente secundário
Diferente do natural.
Daí todo esse trabalho,
Todo esse progresso
Toda essa angústia,
Toda essa besteira.
Necessário, supernecessário,
Criar fórmica, papel, papelão,
Concreto, aço, asfalto,
Enlatados e televisão.
Olhar o mundo por lentes
É muito mais interessante.
Guerrear pelos monitores
É melhor que na ponta da faca,
Ou com os punhos e pés.
E que a justiça se faça,
E que as leis se cumpram.
E que sejam drenados os pântanos,
Extintos os mosquitos,
Que florestas virem pastos,
E que poesias registrem
Os feitos e as glórias.
Para os homens
É supernecessário
Um ambiente secundário
Diferente do natural.
Para não ser um animal.
500 ANOS ESSA NOITE.
Balões esféricos,
Balões ovais,
Balões estratosféricos,
Balões cabrais.
As Américas, o Brasil
Terra da liberdade
Ou da escravidão,
Da felicidade, da libertação.
Se no mundo velho,
A historia é cheia de maldades,
Aqui somos jovens,
Tivemos que incrementar as maldades,
Para nos equivalermos,
Para ser competitivos.
Muitas e muitas maldades
Na unidade de tempo
À grande velocidade,
Sem dó e nem piedade.
Povos massacrados,
Negros escravizados,
Florestas devastadas
Praias, rios e campos
Conspurcados
Tudo muito rápido e eficiente
Para ser compensador.
Agora tudo é festa,
A brincadeira está feita
Só falta perdoarem aa dívidas
Pedirem desculpas, voltar.
Mas não esqueçam de devolver
As toras de pau Brasil
Re-enterrar os diamantes e o ouro.
Repovoar campos e matas
E pagar gordas indenizações
Para os escravizados
( Hora extra, insalubridade e periculosidade,
sem falar no adicional por transferência de local de trabalho)
E, em tempo,
Não se esqueçam de retirar
Todo o cocô que estão jogando no mar oceano
OS BONS SELVAGENS.
Pataxó, ou restos de tribos,
Reunião de povos perdidos
Ação de fazer amigos.
Inventaram os pataxós
A esperança na vida.
Queriam ter outra chance
De carregar mais um pouco
Cromossomos, crianças, tradições.
Conheciam a terra dos ancestrais,
Amavam as árvores dos ancestrais
Respeitavam os bichos dos ancestrais.
Mas, eis que a terra mudou,
E a chuva acidificou
E o ar se industrializou.
As águas escorrem viciadas
E o povo das cidades enloucou.
Pataxó foi à Brasília
E viu o presidente.
“Quem é esse homem barrigudo?
Quem é esse homem gordurento?
Quem é esse homem que diz bonito
Palavras que eu não entendo?
Quem é esse homem elegante,
Que tem guardas de plumas na porta?
Por que tantos vidros no palácio?
Por que palácio?”
Sua casa de palha é tosca,
Porque a vida é certa e se acaba,
Sua casa de vime é pobre
E pode ser esquecida no passado
Suas afamadas armas são de pau
E podem ser largadas na estrada.
As crianças sorridentes.
As mulheres parideiras.
Pataxó quis voltar pra casa
Esperou ônibus atrasado
E dormiu na estrada.
Sonhou que estava queimando
Assando como um moquém
( e de fato estava queimando,
enquanto uns garotos riam,
com garrafas de álcool e fósforos,
os garotos se divertiam).
Abriu os olhos, viu luzes e vidros
Achou que era hóspede no palácio,
Mas estava é no hospital.
Pataxó se finou num instante
Morreu sorridente, pensando:
“Onde ficou a bola que comprei pro Paulinho
( Para Galdino Jesus dos Santos, pataxó queimado vivo, em Brasília, 1997, por rapazes de classe média alta, em um ponto de ônibus, enquanto dormia, esperando condução para voltar pra casa. O crime causou indignação, os rapazes foram julgados, e, parece, já se encontram em liberdade)
(A denominação pataxó hãhãhãe engloba várias etnias, conforme aprendi hoje na Internet)
SÉCULO 21.
É essa uma nova estrada,
Espaços nunca percorridos?
Teria o universo grande esperança no homem,
Ou é o homem que espera do universo?
Nau perdida, à deriva,
Pedaços de uma explosão.
É de espantar
Que num piscar de olhos
Haja vida,
Mas no piscar seguinte
O que haverá?
Um tempo que passa,
O tempo presente,
Ou nem isso.
CÃES.
Cachorros precisam dos donos
São muito brincalhões
Querem falar e não podem,
Andam atrás da gente,
São como crianções.
Um dia perdem os dentes
Os olhares ficam baços,
Ainda mexem com o rabo,
Gostam mesmo de dormir
O dia todo sem pressa.
Partem cedo este mundo,
Morrem sem muito mistério
O quintal fica vazio,
vê-se ainda seus pelos.
E nós que andamos atrás deles.
AMIGOS.
Amigos são mais que irmãos,
Ninguém é amigo para negócios,
Aí vira sócio.
Amigos são mais que esposas,
Amigo para casamento
Vira sócio também.
Amigo é coisa tribal,
Capaz de fazer sacrifícios,
De guardar confidências,
Capaz de morrer.
Seriam os amigos
A tribo perdida de Israel?
PÁSSARO DA MANHÃ.
Dia,
Fio de luz,
Que abre caminho
Para chegar até mim.
Como num milagre continuo vivo,
Acordado para ver a luz do sol
Enquanto todos dormem.
Pássaros da manhã piam
Para dizer o mesmo,
Que o mundo ainda existe.
E estão tão desprotegidos,
Que piam e cantam
Para confirmar que estão vivos
E para se animar.
CONSTATANDO.
Areia voa ao vento
Está em toda a parte
É continente em movimento.
Caravelas.
Peripécias,
Especiarias.
Espinhas na cara,
Flores do mal.
Hoje vai ter carnaval!
Chuva e verão,
Piso de pedras,
Limo no pé das paredes.
O passarinho bica o mamão maduro.
Ele também é filho de Deus,
Assim como eu.
A LONGA VIAGEM DE VOLTA. ( para meu pai)
Demorei a perceber
Que a longa viagem de volta
Já terminou,
Na verdade, nem começou.
Demorei a me livrar dos afazeres
Que não tem começo nem fim
E que servem para acordar,
Para entorpecer.
Imaginava o fim da viagem
Como se chegasse na casa da infância,
E que me sentisse seguro,
Como naquele filme
- Morangos silvestres -
Em que se vê o pai pescando,
De longe, muito de longe,
E se o teu pai está pescando,
Na certa estás seguro,
Porque o pai tem todas as explicações
E elas satisfazem,
Mesmo que sejam absurdos completos de pai.
Demorei a perceber
Que o pai também era humano,
E também precisava de explicações.
E que a viagem
Se não é viagem de volta
É viagem pra frente,
Ou talvez nem seja viagem.
Demorei, sim demorei,
Demorei tanto que hoje eu sou o pai
E preciso encontrar explicações para os meus filhos.
GUERRA BIOLÓGICA.
Tem um parasita
Aproveitando da vida
É um vírus maldito
Que não nos quer muito bem.
Precisa que nos encontremos,
Precisa que nos amemos,
Precisa que nos beijemos,
Que esfreguemos corpo com corpo,
Mucosa contra mucosa,
Sangue misturado com sangue.
Depois nos mata e enterra
E é enterrado conosco,
Mas seus filhos já estão noutras vidas,
Seus filhos já estão em nossos filhos.
Tem um parasita
Que se aproveita da vida.
Tem uma asa delta,
se aproveitando do vento.
Tem uma canoa
Boiando no mar oceano.
Tem um coração
Que continua batendo.
TAO DA PALAVRA.
Seria bom falar sem palavras,
Pois elas são rótulos verbais
Que se fazem realidade.
São uma tosca ciência,
Que requerem o método experimental.
Do que nunca poderá ser experimentado.
Seria bom falar sem palavras
Como se faz o amor.
A palavra não substitui o amor
A palavra só é o amor
Quando o amor
Ainda não está presente,
Ou já passou.
( mas se digo amor,
e respondes com um olhar brilhante,
então a mágica funcionou).
THOREAU.
Poeta da solidão
Tão seguro
Não duvidou
Um momento.
Dois anos no mato
Sozinho,
Todos os dias,
Sem mulher,
Sem filhos,
Sem cachorro
Para sustentar.
Comendo marmotas,
Feijões,
Assando sozinho
O pão,
Pescando
No lago gelado,
Lendo o Gita,
Lutando,
O combate que acontece na mente.
Teria,
No meio
Da noite gelada,
Sentido falta
Duma mulher?
Alguém
Para estar ao lado,
Um corpo quente encostado,
Alguém que console,
Alguém que ampare?
Teria se masturbado?
Mas isso
Ele não conta.
Conta apenas
O bom lado,
Estar no meio do mato,
Viver o essencial,
Ir à medula da vida,
Sugar o suco do mundo,
Estar vivo
E sentir o sol.
MULHERES.
São assim as mulheres,
Uma forte emoção
Lágrimas nos olhos
Palavras que não saem.
Ficam de barriga
E um doutor folgado
Corta-lhes as carnes,
Revira as entranhas,
Tira de lá um pequenino ser
Que veio do outro mundo.
É feio,
Larva de vida,
Chora rouco, desvalido,
Quer conforto, quentinho bom
Que só a mãe pode dar
( e, às vezes, também o pai )
Tum-tum, tum-tum
O ritmo do coração acalma
Tum-tum, tum-tum,
E os olhares, os sorrisos,
O orgulho.
ESCADARIAS DE ODESSA.
Quando era adolescente
De óculos e espinhas na cara,
sonhava com uma mulher
de vinte e oito anos
Olhava-as de longe,
de longe as venerava
como deusas
deusas da tela
divas do cinema mudo
Lilians Gishes divinas
Claudias Cardinales macias
gigantescas na tela
gigantescas como a mãe natureza
cujas filhas passeavam pela Terra
Perfumadas, ajeitando os cabelos
Balançando a barra das saias
Revirando o meu coração
Como estrelas do cinema mudo
quanto menos falassem melhor
Mais lindas, mais misteriosas
e se falassem
Que falassem francês
que entortassem a cartola
Como Marlene Dietrich.
Que olhassem com os grandes olhos
De Edna Purviance
enquanto a legenda mostrava;
Je t'aime.
Quando eu era adolescente
Era fácil descer as escadarias de Odessa
com os cossacos atirando atrás.
Carrinhos de bebê rolavam pelos degraus
e grandes olhos, bocas abertas de terror,
Braços que carregavam a vida morta,
Mostravam o valor de uma mulher.
queria falar e não conseguia
queria gritar e não podia
O filme era mudo, o grito era adivinhado
O amor era o sonhado
Uma mulher de vinte e oito anos.
Ainda hoje
continuo querendo
uma mulher de vinte e oito anos
as escadarias vencidas num momento
Subindo, sempre subindo,
enfrentando aqueles malditos cossacos.
Até chegar lá em cima
E acenar
para a câmera
embaixo.
TABU DO INCESTO.
Era tão fascinado
E amava tanto a sua mãe
Que tinha que fingir que não amava.
Recusava beijos e afagos
Repelia abraços e agrados
Tudo para ele estava bem
E não requeria atenção.
"Esse menino é um doce,
Não dá trabalho algum,
Nunca me trouxe problemas,
Nunca se meteu com gangues,
Só tenho um pouco de medo
Porque troca a noite pelo dia
E se alimenta tão mal".
Achava-se poeta,
Magro, um varapau,
se via tuberculoso,
Acertando tiros no pé,
Afundando com um navio,
Em meio a rimas e febres,
Morrendo antes dos quarenta.
Ou, apenas moraria
No centro da cidade,
Passearia de noite
Defronte do edifício
Onde morreu Villa-Lobos,
Veria os azulejos
Pintados por Portinari,
Velaria pelos livros
Da biblioteca vetusta,
Os olhos na escada
Do teatro Municipal
Passeador solitário,
Nas ruas vazias
Do centro do Rio.
De dia se esconderia,
Dos anos se omitiria,
Dos acontecimentos se alhearia
Onde estão os teus versos?
Cadê o poeta dos escravos?
A canção da liberdade, cadê?
Se é que a liberdade
se consegue com canções,
Cadê o teu fino humor,
Cadê os teus amigos?
Apenas uns beberrões,
Cadê teus filhos, tua mulher?
Onde está a tua família?
Junto com os fantasmas da tabacaria?
Até que percebeu que o seu édipo complexo
Era tão ditatorial, tão autocrático,
que só poderia ocorrer um caso de exogamia
Se fosse branco, uma negra,
Se fosse árabe, judia,
Se fosse cristão, muçulmana,
Se ateu, marxista ou leninista, qualquer coisa servia.
Tudo para não lembrar da mãe
Que amava e achava não amar
Quando estivesse com a mulher amada.
VÓ CORAGEM.
Tinha eu muito medo da minha avó
Porque ela que matava as galinhas
E falava com sotaque.
Afinal esses europeus são meio brutos;
"Os franceses esbofeteiam as crianças...
Os ingleses dão surras de vara,
com a maior das elegâncias empertigadas;
Os russos comem criancinhas...
Os alemães, eu não quero nem imaginar...".
Tinha eu muito medo da minha avó.
Que senhora cheia de coragem,
Da Bessarábia, judia, veio sozinha para cá ,
Trabalhou, casou, constituiu família,
Lutou pela vida, como todo mundo,
Perdeu filhos na gripe espanhola
E teve muitos outros para compensar.
Eu tinha muito medo da minha avó.
Não porque matava a galinha dos domingos,
Ou falava com sotaque.
Mas porque ela mandava no meu pai.
AMOR IMPOSSÍVEL.
Estive enamorado por Clarice,
Lia tudo o que escrevia
Mesmo sem entender a metade.
Mas sabia que era alta e bonita,
Tinha a cara enigmática,
Devia saber das coisas que importam
E que não dá para contar.
Olhava sua fotografia,
Nas orelhas dos livros,
como foto de mulher nua.
Olhava o seu rosto nu,
e ele não escondia sentimentos,
Com certeza a encontraria,
Nesse dia não precisaria nem falar
Olhares que se entendem,
Retinas que se ajustam,
Pensamentos que coincidem
Nos abraçaríamos em silêncio
e murmuraria
Clarice, como demorei a te encontrar.
O SER PANFLETÁRIO.
Eu tenho um grande defeito
Eu sou panfletário,
Qualquer um pode torcer o nariz
E dizer com desprezo;
É só um panfletário.
- a crítica mais contundente.
E com isso tudo descamba
Pelo ralo abaixo.
Não é doença infantil
Como sarampo, catapora,
É juvenil, como a acne.
Adquiri com os antigos,
Brecht, Maiakovski, Castro Alves,
E agora não há como
Livrar-me das cicatrizes
Tenho a cara furada
E não há peeling que cure.
Preocupado com as críticas,
fui procurar nos poetas
a sua motivação.
Vejam, Borges,
o Jorge Luís,
pessoa boa e simpática,
ser totalmente apolítico;
não é que arrumou, também encrenca com o ditador das argentinas; porque não é uma questão de política, dói mais aos Borges serem governados por ignorantes. E cá entre nós, um ditador culto é uma miragem maior do que um rei filósofo:
“o que desejávamos escrever era a poesia essencial – poemas para além do aqui e do agora, livres da cor local e das circunstâncias contemporâneas”. Nada, portanto de panfletário. Um amigo disse;“Ah, vejo que você sustentava o ponto de vista de que o principal objetivo da poesia é surpreender”.
Já Elliot, T. S. afirma:
“Que a poesia é muito mais local do que a prosa, pode ser verificado na história das línguas européias”.
E mais: “Numa civilização saudável, a poesia maior terá algo a dizer a todos os cidadãos, em qualquer nível de educação”.
E mais ainda: “A poesia é uma constante lembrança de todas as coisas que só podem ser ditas em uma língua, e que são intraduzíveis”.
E finalmente: “É igualmente possível que o sentimento pela poesia e os sentimentos que são a matéria-prima da poesia possam desaparecer em todos os lugares, o que poderia facilitar aquela unificação do mundo, que algumas pessoas consideram conveniente para o próprio benefício deste”.
Estaria ele falando da globalização?
Então a poesia pode estar
desaparecendo do mundo.
Os sentimentos e emoções
podem estar sufocados.
O próprio ser pode estar
igualmente pisoteado.
Esse é o tema universal, isento de cor local, para além do aqui e do agora, que deve ser dito em todas as línguas nacionais, com as suas diferenças intraduzíveis. Precisamos dizer que o condor é um animal em extinção, e que o povo também. E que a praça não é do povo. Lamento muito, mas a praça só é do povo durante o carnaval. Pode ser que todo o mundo já saiba; mas quem está nascendo, não
Então eu sou panfletário
É um defeito que tenho
Cicatrizes de acne juvenil
Que peeling nenhum dá jeito
E mesmo avançado em idade
Carrego ainda no rosto
No cérebro, no pensamento
As marcas daquele tempo.
ALDEIA GLOBAL.
Quando esse homem grave
e cheio de responsabilidade
Enruga a testa,
e ajeita os cabelos grisalhos
Sua cara de menino o trai:
ele quer sair dali,
Daquela reunião enfadonha
Para jogar bola de gude com os amigos.
Mas exigem a sua atenção,
Ele, o representante do povo,
e da nação
e de um monte de fábricas belicistas.
Enfim, dá o sinal verde e a carta branca
Para que se inicie a operação,
cirúrgica, matemática, financeira,
Alguns mortos, alguma destruição,
Mas depois a recompensa,
A paz ainda que débil,
e bons negócios,
Os lucros, os "profits".
A domesticação, a reconstrução,
o treinamento da mão de obra especializada,
O capital de giro, o giro das cabeças cansadas,
E tanto progresso, tanto,
que não dá para descrever.
Muitas máquinas modernas,
De fazer tudo automático,
A louça, nem pensar, é descartável,
A lata, nem olhar, é para ir para o lixo,
O plástico, pode esquecer,
temos para toda hora,
E circuitos impressos,
e cartuchos de tinta
De cinqüenta dólares,
Tudo para descartar,
Para jogar fora.
Fast food e fast make,
Foi tão rápido, senhores,
Que acho que estava pronto
Desde ontem.
Mas eu não,
Nunca estarei pronto,
Seguro, acabado,
uma obra prima terminada,
eu sempre serei um tonto,
Um sinistro, um errado,
que pede água da bica
na lanchonete,
Quando devia pedir
Bebida gaseificada.
Então, mero transeunte pela vida,
Sou apenas mercado,
Pingo nas tabelas das estatísticas
Mas não me reduzam muito as rendas
Ou não poderei consumir.
Sou fumante
Vício que leva às tumbas,
Mas sustento a American Tobacco.
Uso óleo de soja,
A Monsanto depende de mim,
Vou ao banheiro com regularidade,
Alguma grande empresa
me tem em alta estima,
Pois sou um grande usuário
Do seu papel sanitário.
Imaginem depender de tecnologia avançada,
Importada, norte-americana,
Para um simples papel sanitário...
Ah, se não fossem elas,
As grandes corporações,
Usaríamos sabugo de milho
Para a higiene mais íntima,
Pitaríamos pitinho de barro,
Ou cigarro de enrolar,
Como o velho Jeca Tatu,
Do saudoso Monteiro Lobato,
Teríamos a barriga grande da opilação,
E blastomicose no buraco da saída...
Então é bom esse mundo pasteurizado
Essa vida de plástico, de apitos eletrônicos,
De bipes, de dígitos, de dáctilos, de garras,
Com as coisas mais simples e mais bobas,
Da maionese ao quetchupe,
Do sabão em barra, ao pó de sabão,
Do creme dental às chamadas telefônicas,
E aos bolinhos de carne que se chamam burguers
Tudo muito sofisticado que requer alta tecnologia.
Caramba, como o mundo mudou!
Minha mãe fazia maionese aos domingos
com as suas próprias mãos...
Tudo o que é preciso,
É gema de ovo, azeite, temperos,
Bater um pouco, e está pronto.
Minha avó fazia macarrão,
farinha, ovos, amassar com as mãos,
com o rolo,
Cortar em tirinhas, secar.
Mas hoje,
Quem tem tempo de fazer macarrão, maionese?
O tempo é para trabalhar
Mães, tias, avós, irmãs,
Para poder comprar macarrão,
Para poder comprar o pão,
Para poder morar,
Para ficar nos engarrafamentos,
Para ter dignidade.
É moço, mulher precisa trabalhar,
Pegar no pesado, carregar fardos,
Já não são tantos os fardos
Que elas têm que carregar?
Maionese, quetchupe, sabão,
Só multinacionais podem fabricar,
Com esmero e tempero,
Com normas, com higiene,
Para ter qualidade garantida.
Normas que ninguém verifica,
Qualidade que ninguém questiona,
Mas empresa com nome tão bom
Com certeza só faz coisa boa,
E ainda tem conservantes,
Espessantes, estabilizantes, e colorantes,
Quem és tu para duvidar
Da capacidade dessa gente?
Tu és só o mercado,
Então faça a tua parte,
Compre, pague sem reclamar,
Consuma e gere impostos,
Consuma e crie empregos,
Uma simples maionese
Que era feita em casa,
E comida na mesma hora,
Pote lambido pelas crianças.
E tudo isso acontece
Porque o homem grave
Grisalho e com cara de menino
Toma decisões com segurança
E depois corre para o campo de golfe
Pois hoje não poderia jogar bola de gude.
Numa penada, invade um país.
Com outra corta créditos para um povo.
Numa terceira manipula os juros para o mundo.
Quando penso em Gandhi
Levando o povo para o mar
Para fazer sal de cozinha,
Ou tecendo algodão com as mãos,
Ou carregando penicos cheios em seu ashram,
Me admiro: velhinho porreta!
Teimoso como a peste!
Pena que ele se foi,
Mas seus filhos hoje são feras,
Levam um som arretado,
E detestam maionese.
POESIA.
Um país precisa de escritores,
E precisa de poetas
Para que eles coloquem em palavras
Os sentimentos do povo
Os sentimentos, as emoções,
as apreensões, o medo.
Mas também a ânsia de paz,
De amor, de coisas universais.
Um país não precisa
Só de políticos, de executivos,
de economistas, de técnicos,
que expressam em decretos
A vontade de seus patrões,
Então vem os poetas
Dizer que a vida é possível,
Ainda é possível,
Colocando em palavras
Os sentimentos,
Todos aqueles que
cabem dentro das palavras,
E os outros,
Os que não cabem,
E que parecem indizíveis,
Mas que, às vezes,
Reconhecemos com sorrisos.
É porisso
Que um país precisa
de escritores, de poetas,
Para dizer as coisas
Que o povo quer dizer
E não ousa.
Mas que algum dia
Vai ousar.
AÇÃO SOCIAL.
Toda ação social
É como um linchamento
Quem está presente
Dá um soquinho,
Um pontapé,
E depois não se sente responsável
Pelo resultado funesto.
Afinal, foi só um soquinho,
Um gesto apenas simbólico,
Difícil acreditar que tenha feito tal estrago.
( Assim se lapidavam,
Nos tempos antigos,
Adúlteras, bruxas, seres pretensamente do mal).
Mas o povo é feito de indivíduos,
Indivisíveis, que pensam e sentem
E se acham perfeitos em tudo.
Sofrem, falam do que é errado,
E não reconhecem a responsabilidade.
É porisso que não ousam.
PEDRA.
A pedra, coitada,
É uma grande vítima.
Explodida, dinamitada,
Britada, briquetada
Acaba soterrada
Em fundações,
Aprisionada em colunas,
Em vigas, vergas, virações.
Eis que a pedra é o caminho,
É todo o caminho,
Se tiver alguém caminhando.
E se não tiver
Quem testemunhe,
A pedra continuará lá.
Olhando as pedras
Da pirâmide de Queops,
As monumentais pedras talhadas,
Transportadas, empilhadas,
Por homens iguais a nós,
Nos espantamos.
Quanta perda de tempo,
E de vidas, e de sentimentos,
Homens cuja obra
Foi trabalhar as pedras,
E carregar os genes,
Pedras de armar
Que montam a nós
E aos nossos contemporâneos.
VOCE, O QUE FAZ?
Você teria coragem
De derrubar uma árvore,
De sacrificar um carneiro,
De jogar cocô
Nas águas limpas
Do mar-oceano?
Você não faz
porque é bonzinho,
Mas alguém faz
Por você.
Você teria coragem
De expulsar gente da terra,
De tocar fogo em mendigos,
De trazer escravos da África?
Você não faz
porque é decente,
Mas alguém
Faz por você.
Você teria coragem
De perseguir marginais
De metralhar inimigos,
De jogar bombas em cidades?
Você não faz
porque é da paz,
Mas alguém
Faz em seu nome.
Você teria coragem
De promover o desemprego,
De aumentar os impostos,
De jogar pessoas na clandestinidade?
Você não faz
porque não é poderoso,
Mas alguém
Faz por você.
Porque a humanidade
é assim:
Um fogo de brasas baças,
Que queima
Sem iluminar
E mancha a todos,
E toca a todos,
E a todos vai
Queimar.
Você teria coragem
De ser carrasco,
De executar o bandido,
cortar a sua cabeça,
Disparar o fuzil,
Passar a corda no pescoço,
Injetar nas veias o veneno letal?
Você não faz
porque não tem maus bofes.
Mas alguém faz por você,
E recebe salário,
E dorme tranqüilo com o dever cumprido.
Porque a humanidade é assim,
Um conjunto desconjuntado,
Em que cada um faz o que lhe parece direito
Ou o que o mandam fazer.
Você teria coragem
De morrer sem morrer,
Renunciar, dar a outra face,
Abrir mão, doar o seu tempo à terra,
Dividir as suas posses,
E possessões e ganâncias,
Sem olhar para trás?
Você não o faz,
E isso ninguém fará por você.
Porque a humanidade é assim,
Conjunto de bocas e de olhos,
Estômagos insaciáveis,
Voraz voracidade,
Feroz ferocidade,
Veraz veracidade,
Cidades e campos fatais.
E os homens são assim,
Entre o ódio e a santidade,
São a possibilidade
De felicidade.
O QUE HÁ MELHOR DO QUE ISSO?
Chega de experimentos com a vida
Basta de ciência utilitária
Qual ciência é necessária
Para um ato de amor?
Chega de trabalho racional
De progresso pelo progresso
De transgênicos resistentes a pragas,
a herbicidas, a sucos gástricos,
Chega de automação
Que reduz custos só para o patrão,
Qual a automação necessária
Para um ato de amor?
Chega de facilidades,
De ser solerte com a vida,
De ser esperto com a terra.
Qual a esperteza necessária
Para um bom ato de amor?
Basta com tanta inteligência
Que é uma apropriação,
Da inteligência da natureza,
Dos bichos simples e das simples moléculas,
Que existem e não se dizem inteligentes,
E o homem que não é tão inteligente
Mas muito observador,
Destrói, copia, se apropria...
Digam-me, qual inteligência é necessária
Para um bom ato de amor,
ou de sexo, ou de carinho, ou de chamego?
E existe coisa melhor do que isso?
PRAGA.
Já somos seis bilhões
Nasceu o menino da Bósnia,
Em meio à multidão
E a mortos em profusão.
É isso mesmo,
Já somos seis bilhões,
Já tomamos conta do mundo
Já andamos por todas as partes,
Exploramos Ártico e Antártico,
Atlântico, Mediterrâneo,
Conquistamos os Himalaias,
e fomos até a Austrália,
Bora-bora, Taiti,
Jamaica e Havaí,
Plantamos em todos os pontos
O bastião dos quebrantos
Espalhamos em todas as praias
Dejetos, plásticos, papeis,
Escritos em todas as línguas
As que se escrevem pra frente,
As que se escrevem pra trás,
As que se escrevem na vertical.
E por mais que se morram nas guerras
Por mais que ocorram ciclones
Tornados, terremotos, epidemias,
Desastre de trem e avião,
Por mais que ataquem piranhas
tubarões, lobos, ursos, jararacas,
O que podem os pobres animais
Contra nós?
Já somos seis bilhões!
Bocas, muitas bocas.
Dentes, muitos dentes.
Desejos, muitos desejos.
Eta, praga.
IDEALISMO.
O melhor amor
É o que fala menos
Faz o que advinha, supõe, imagina.
O melhor poema
É o que menos diz
Menos explica, menos descreve, menos registra
O melhor emprego
É o que faz passar o tempo
Sem que o tempo, na verdade, passe.
A melhor vida,
É a que não acaba nunca,
Porque é feita de momentos.
A melhor ação
Pode ser feita sem avisos,
E pode ser sem emoção.
A melhor rosa
É percebida sem palavras,
E vai direto ao coração.
A melhor palavra,
É a que dá alento
E encoraja.
SALVAÇÃO (Windows 95).
Esta sessão
Está encerrada,
Acabada,
Finalizada.
Espero que as memórias perdurem,
Que eu não perca o meu trabalho,
Que a luz não me falte e nem me falhe,
Que um curto-circuito não me atrapalhe.
Esta sessão está encerrada.
Deseja salvar,
Deseja salvar-se,
Deseja modificar,
Deseja sentar no bar?
Desejo,
Desejo,
Desejo.
Esta sessão está finalizada,
Pode desligar em segurança.
Deseja salvar, salvar-se?
Sim, eu desejo.