LAVOURA DE ALMAS

Faz tempo que eu não venho aqui

tinha resolvido não voltar

não por ter, aqui, motivos para não voltar

mais por não sentir em meu retorno a

face da felicidade que tem se apagado

à medida que esculto o mundo.

Por dias e mais dias tenho vagado

pelas noites ate o amanhecer.

Ando por todos os intervalos que existem,

e quando chego, sinto o eco de meu peito;

paro, atento, tento respirar, pois me falta ar...

Ah, como me falta o mundo, me falta um motivo

para voltar, pois o mundo esta completo na sua

imperfeição.

É preciso parar,

é preciso ouvir o que os ventos dizem em suas

línguas praticamente santas.

Fico horas sentado, ouvindo as histórias do mundo,

sentado no céu completamente nu.

Ouvir o vento é um momento pleno, em plena solidão

suprida pelos intervalos do mar e seus cavalos brancos

atravessando milhares de hectares,

quebrando sobre meus pés.

Quebrando, quebrando, quebrando

Andando, andando, andando

Sentindo, sentindo, sentindo

o mundo todo sendo criado,

cada centímetro de areia voadora,

cada partícula de mar e suas infinitas ondas

e vidros cristalizados, como espelhos refletindo

o céu e suas divinas constelações.

São infinitos os caminhos...

Olhando para cada ponto no céu,

sinto que o universo se movimenta,

eu, fragmento da criação, partícula divina,

essencial ser, expurgo todas as mentiras

contadas ao mundo sem identidade,

se movendo sem idade, parte escrita com

tanta fúria e perguntas sobre a existência.

E você o que diz,

diante de todas essas estrelas no céu?

Diante de todos estes seres do mar?

Diante da dor pintada nas paredes que

abafam os gritos colhidos que dou

ao mundo, quase sem sem respostas

só eco, eco, ecoa?

E as covas todas á mutuadas;

Eu vejo, estão ali, vejo, ali;

Você...

Continua se omitindo à dor?

Para quê tornar tão pequeno esse céu tão grandioso?

Por quê? Por quê uma sombra?

Vivendo nas cavidades da vida,

quando eramos tão felizes!

Só sair de noite, quando existe um sol tão

magnifico nascendo só para nós?!

As vezes eu penso em voltar...

Mas sei que nunca será como antes (nem poderia ser)

Correr por corpos acesos é um vento que passou, e em nós

só a permanência da essência perfumada, ficou,

e com o tempo, nada existirá se não lembranças,

que com outras voltas do mundo,

outras partículas de ondas salgadas

quebrando na areia branca e infinita,

refletindo o céu, única testemunha de tantas,

tantos versos de amor, dor, mentiras, tons esquecidos

nesse salão sombrio e divino, casa de todos os homens,

vampiros, lobisomens uivando em lua cheia, rituais

completos pela fogueira queimando meu corpo, meu corpo

gritando, gritando, gritando como um louco a beira de um

colapso ejetado pela lembrança de um dia voltar e encontrar

o bulhe, o pão caseiro acompanhado do gosto

do café no ar e as tardes completamente nu em seu corpo,

como um só, contando algarismos infinitos na tua nudez,

regada pelos teus lábios, morango da melhor estação,

verão aquecendo suas coxas, despindo-me de pele,

rasgando a carne com mordidas que duravam o dia todo.

Comia cada pedaço de pétala do teu sexo,

enquanto você cantava gemidos inclinada em cima

do meu plantio de amor, como uma abelha rainha,

voando, polemizando vida.

Desabrochando a flor exótica do teu corpo todo branco,

todo negro, todo cor, todo jardim, todo sabor, todo mel,

todo profético, todo coberto de loucura santa,

todo descoberto de menina-mulher em seu ciclo de luar

Em dias que ficava nua no ar,

preparando teu corpo para semear

vida em sua flor celeste, em nossa relação supra-física.

Seu cabelo com perfume combinando com sua pele:

tão lisa, tão quente, tão minha.

Me comprometo à conhecer cada centímetro do teu corpo,

da tua alma, do teu universo.

E entre poemas e versos fui gozando com fervor em tua pele

refletida pelos teus olhos, na lua que nos olhava como quem diz:

Nós, os seres do espaço, bailamos em movimentos transcendentais,

junto aos corpos santos que empregam na expansão do vosso amor,

que vem trazendo todos os raios, auxiliando auxiliando a evolução

com tantas sementes divinas á germinar.

O universo agradece em nome das partículas divinas.

Tempo, tempo, tempo

Mago que rege os destinos

aprendemos a dizer teu nome, e tu,

oh grande mistério,

me ensinou a amar,

me contou o nome dos anjos,

me cantou musicas celestiais

me deitou em tua cama coberta de palha,

me fazendo invadir o teu corpo, puro,

sangrando de desejo latente em todos os poros,

sangrando por todas as veias,

comendo por todas as bocas,

gemendo por todas as respirações,

gozando por todos os corpos,

germinando por todas as peles,

amando pela única alma,

traduzida por dois corpos.

Samir Raoni