Máquina do Tempo
Máquina do Tempo
Ah! Francisca.
Como eu fui ingênuo, não sabendo receber o amor que me davas.
Os nossos domingos eram coloridos, sentávamos entre as flores para conversar.
Um dia, de mãos dadas, fiquei enciumado da chuva que molhava teus louros cabelos;
Você me sorriu, compreensiva, juntou-se mais a mim e subimos a ladeira, rindo como crianças.
Uma patrulha desastrada metralhou com ignomínia os beijos que me deste.
Não mais te vi: um dia soube que tu havias partido, livrando-me de uma despedida sem lágrimas.
Muitos anos fiquei a exorcizar tua voz de meus ouvidos, inclementes vergastadas para não te esquecer.
Apelidei-te de Tchicha, só prá ver o teu encabulado abaixar de cabeça, quando eu o pronunciava junto de tuas orelhas.
Tu foste a primeira mulher a me fazer gostar de ouvir o meu nome,
Que em tua boca me parecia tão doce, fazendo-me pedir-te que o repetisse para mim multas vezes
Até que o meu nome, saído de tua boca, colasse em mim como uma cicatriz.
Li, numa carta, que você chorava a minha ausência: fechei a carta e as portas da minha vida para nós dois.
Na inexperiência dos meus vinte e um anos conheci Francisca, a minha Tchicha. Tremia quando ela surgia, ao longe, os louros cabelos esvoaçando ao sabor do vento. Foi a partir de Francisca que aprendi a identificar a dor de estômago que significa a pressa de amar, o beijo pausado, sem começo e nem fim. Foi também com a pequena Tchicha que desaprendi de esquecer.
Terras de São Paulo, noite da primeira Quarta-Feira de Fevereiro de 2010.
João Bosco