Catadora de conchas

O mar foi generoso esta manhã

Despejou no fim da praia

- cidadão civilizado –

o seu lixo reciclável.

Folhas, gravetos, frutos

Da tempestade noturna

E centenas de milhares

De pequeninos tesouros

Catadora de conchas

Um tanto arqueóloga

Acho um vidro aqui

Um caco de argila acolá

Enquanto remexo as conchas

Separo as cores e formas

De todos os tamanhos

As ondas cantam mais alegres

Banhando este cemitério;

Entre sussurros e risos,

Contam estórias de mistérios.

Anos atrás eu trazia

Crianças com seus baldinhos.

Certa vez apanhamos

Pequeninas e delicadas

Conchinhas cor de rosa

Que lavamos e secamos ao sol;

Depois fomos para casa

Acabar a brincadeira.

Em uma tampa de madeira

Colei uma gravura bonita

Escolhida pelas meninas;

Quando secou, ao redor dela,

Espalhamos conchas belas

Agrupadas com tal arte

Que imitavam rosinhas -

Cada qual fez sua parte

Num mimo pra vovozinha

Isto foi há muito tempo.

Neste momento

As meninas já cresceram

E esqueceram.

Eu é que viro menina

E com leves movimentos

Mergulho as mãos na água morna

E penetro no universo

Que ora canto em meus versos.

Sonia Rodrigues
Enviado por Sonia Rodrigues em 28/05/2005
Código do texto: T20363