Ainda chove, ainda sinto frio, ainda estou sozinho...

Chove lá fora. Aqui dentro, frio...

Chove lá fora. Aqui dentro, frio, solidão,

trevas, relâmpagos e trovões assustadores... deserto...

Chove noite afora. A chuva não cessa.

Não cessa o constante ping, ping, ping...

São gotas da chuva, fazendo barulho lá fora...

som que posso ouvir aqui dentro.

Forte. Tão forte que não consigo esquecer!

As gotas da chuva gritam para mim! Eu as ouço...

Ainda chove lá fora! Aqui dentro, ainda com frio,

solitário, com medo do escuro, fugindo dos relâmpagos,

estremecendo com cada trovão, ainda me sinto num deserto...

Mesmo com toda chuva! Aqui dentro, ainda é deserto! Tudo é deserto!

Deserto gelado, escuro, de um tempo sempre chuvoso...

um deserto dentro de mim... habitou em mim...

E não há o que temer lá fora, além do som da chuva...

Mas, temo... tremo... escondo-me... fujo do conhecido, do habitual...

Evito pensar d’outra forma. Evito tudo! Apenas temo...

Temo a chuva, o som da chuva, o frio, a solidão, os trovões e relâmpagos... temo tudo! Estou só, e com medo...

Temo o deserto! Esse sim! Fez-se aqui dentro, não dá espaço para mais nada!

Intercala-se com a chuva, o frio, a solidão, as trevas... é o meu deserto!

Aqui dentro, começa a chover... não como lá fora.

Não! Apenas pequenas gotinhas... um som de chuva, aqui dentro...

Gotinhas que invadem meu ser. Tomam à força meus pensamentos!

Um constante som de chuva. Sinto cada vez mais frio,

estou só. Com medo... e a chuva não cessa, a noite não vai embora...

Impotente perante a chuva lá fora e ao deserto aqui dentro, tremo!

Mesmo que chova, aqui dentro tudo ainda é um deserto perturbador!

A noite revela-se fria, escura, tempestuosa, amedrontadora...

parece eterna! Quando verei o fim de tudo isso? Tenho medo.

Quando verei a luz do dia? Quando chegará o amanhecer?

Quando verei o fim da chuva? Quando dissipará esse deserto?

E o som da chuva? Porque me perturba tanto? Porque não se cala?

Não quero sentir frio, nem solidão... tenho medo do escuro.

Estou só... e com medo... Um novo som une-se ao som da chuva. Lágrimas insistem em rolar por meu rosto...

Estou só, com frio, com medo, atravessando um deserto,

e aqui dentro, chove ainda mais! Mais que lá fora! Sons de chuva...

Não posso parar de pensar! Não pára de chover!

Chove lá fora, chove ainda mais aqui dentro!

Chove muito! E o frio? Não sinto meus pés!

Nem sei se ainda sinto algo em meu corpo...

Apenas sinto medo, muito medo! Ainda chove.

Chove lá fora, ainda mais aqui dento!

Ainda choro. Choro por dentro, e ainda mais por fora!

Quero sair desse deserto! Quando vai parar de chover?

É impossível conter as lágrimas, que agora parecem jorrar

de minha face já desfigurado pelo medo, pelo frio e pelo choro...

Começo a gritar de dor, desespero, frio, solidão...

Grito com todas as forças, pois estou com medo!

Ninguém ouve meu clamor... estou só!

Sozinho no deserto (aqui dentro...) Sozinho na chuva...

...com frio, no escuro, em meio aos trovões, com medo...

Essa chuva parece presa lá fora, mas,

é mais minha que de qualquer outro... são meus sons de chuva!

Essa chuva é mais aqui dentro que lá fora! Está dentro de mim!

Estou só... tenho medo... choro por medo de passar por tudo isso...

Estou só aqui dentro, chorando, nessa chuva de lágrimas,

nessa chuva interna... no escuro que se fez dentro de mim...

No início, eram apenas gotinhas de chuva,

agora, chove mais aqui dentro que lá fora! Estou com medo!

Como conter as lágrimas? Quando verei o amanhecer?

Quando verei a luz? E o deserto? Poque não se desfaz?

Ainda é noite. Ainda chove. O frio aumentou, não sinto mais nada...

Nada além de medo. Só quero sair daqui!

Só quero que pare de chover... Que dissipe-se esse deserto.

Deserto que impregnou-se aqui dentro. Encolho-me num cantinho, procuro aquecer meu corpo, já gelado, pálido...

Sinto tanto frio, estou com tanto medo,

que nem sinto nada ao meu redor, apenas frio, medo...

Nem sei que horas são. Sei que ainda é noite! Noite eterna, a meu ver!

Sei que ainda chove! Ainda é deserto aqui dentro!

Ainda chove muito aqui! Mesmo assim, ainda é deserto...

Sei que sinto medo... medo do frio, da solidão,

do escuro, dos raios, trovões... medo do deserto!

Sinto medo de mim mesmo... meu choro não produz mais sons...

não tenho mais forças para gritar... apenas choro...

Esforço-me por ficar acordado. Tenho medo de dormir,

tenho medo de mim... tenho medo da chuva, do frio,

do escuro e do deserto! Apenas um temor insólito!

Ainda chove muito lá fora... ainda é noite...

ainda é deserto aqui dentro...

Ainda chove mais aqui que lá fora!

Ainda choro! Ainda sinto medo, frio...

... ainda está escuro, trevas densas!

Raios e trovões por todo céu!

Ainda chove... ainda choro... ainda sinto frio...

... ainda estou só!

jony marcos martins, 16/01/10

Jony Marcos Martins
Enviado por Jony Marcos Martins em 16/01/2010
Reeditado em 21/12/2019
Código do texto: T2032362
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