PRESENTE DE NATAL
É assim:
- Arrumando uma caixa velha minha,
esquecida em um canto do meu guarda-roupa,
achei este último exemplar virgem
do meu primeiro livro de poesias,
escrito com minhas mãos ingênuas,
feito artesanalmente e que tive,
quando de sua visita à minha casa,
oportunidade de lhe mostrar.
Houve uma promessa guardada,
até hoje, em minha memória cansada.
Ele está velho,
carcomido pelo tempo, pelas traças
e pela simplicidade de um moço
que ainda sabia amar.
É o penúltimo que sobrou
dos poucos que minhas economias suportaram pagar.
Não sei se estou dando valor maior
- certamente estou -
do que tem o livro que sequer nome ganhou,
mas para mim é uma preciosidade,
pois sei apenas o destino deste agora
e daquele que lhe mostrei, cuja guarda tenho
(era de meus pais e o recebi de volta
por ocasião do falecimento deles
e por força de um testamento tácito).
Mando-o pela costa veloz do Noel.
Se não gostar, pode jogar fora,
ou me devolver.
(em nenhum caso ficarei chateado).
Se guardar ser-lhe-ei eternamente grato.
É tudo o que esse pobre bardo pode lhe dar neste Natal,
na vã tentativa de retribuir modestamente
as muitas delicadezas que me fizeste.