O vestido

Abro o armário

E me deparo

Com um pedaço vivo

Do passado

Lá está, inerte

Pendurado.

Feito um troféu solitário

O antigo vestido de cetim

No fundo de tom azul-celeste

Me perco entre as bolinhas

(já amarelas, quase sumidas)

O talhe esbelto

Sugere o corpo esguio

Para o qual foi desenhado

Os laçarotes, então em moda

Denunciam em tom romântico

Segredos nunca antes revelados.

Quantos sonhos, mil desejos!

Numa história tonta

E sôfrega

De ilusões e cores

Um cintilar de luzes

E festas memoráveis

A juventude insana

E primaveril

Dos verdes anos

Retrata assim

Esse fino estandarte

Um ontem sagrado

Remexendo em cinzas já frias

Acordando prazeres quietos

Simplesmente

Um vestido guardado.

MARINA ALVES
Enviado por MARINA ALVES em 27/11/2009
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