O vestido
Abro o armário
E me deparo
Com um pedaço vivo
Do passado
Lá está, inerte
Pendurado.
Feito um troféu solitário
O antigo vestido de cetim
No fundo de tom azul-celeste
Me perco entre as bolinhas
(já amarelas, quase sumidas)
O talhe esbelto
Sugere o corpo esguio
Para o qual foi desenhado
Os laçarotes, então em moda
Denunciam em tom romântico
Segredos nunca antes revelados.
Quantos sonhos, mil desejos!
Numa história tonta
E sôfrega
De ilusões e cores
Um cintilar de luzes
E festas memoráveis
A juventude insana
E primaveril
Dos verdes anos
Retrata assim
Esse fino estandarte
Um ontem sagrado
Remexendo em cinzas já frias
Acordando prazeres quietos
Simplesmente
Um vestido guardado.