Retalhos de passado

Volta-me o tempo

de vez em quando.

Emerge remanescente

numa dor morna

de cheiro de curral

mugido de bois

e brisa silente

a soprar de manso

as flores amarelas

e os coqueirais do brejo.

Vem-me no pipilar de pássaros

(se acomodando no bambual)

à boquinha da noite

no ciciar de grilos

no coaxar de sapos

nas sombras rasantes

de vôos noturnos.

Nos esqueletos negros

do arvoredo

a traçarem formas bizarras

contra os derradeiros clarões

do entardecer.

Aí, invade-me

uma vontade insólita

de reviver

e de não lembrar...

De rememorar

e de esquecer...

De recordar

e não mais sofrer...

MARINA ALVES
Enviado por MARINA ALVES em 12/11/2009
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