Lolita
I
Pelo lustroso, porte altivo - talhe de rainha.
Andar solene, olhar doce, e muito bonita.
Quando a ganhei, não pestanejei: Lolita!
Assim a chamava. Amava-a – feliz ela vinha.
II
Vivia sozinha, guardada, mimada, com zelo constante.
Prole não tinha; sempre cuidada – vestal parecia.
Aos poucos definha a bela Lolita; em breve morreria.
Seus olhos profundos, falavam: - quero um amante.
III
Um dia de frio, Lolita no cio, espalha seu cheiro no ar...
Por entre as grades, um cãozinho invade, seu chamado a ouvir.
Impassível, assisti. Queria prá ela um nobre, porém foi um pobre que a vi possuir.
IV
A princesa, guardada, regrada, como plebéia se dava
O tal vira-latas, por força da sorte, maior se tornava.
Ficou-me gravada a lição: nem sequer a um cão se proíbe de amar.
Feito para Lolita – uma cadela boxer que viveu em minha companhia por oito anos, com a qual dava longos passeios. Depois da morte dela, nunca mais consegui lidar com nenhum outro cachorro.
Vale do Paraíba, Novembro de 2008
João Bosco