A morte

A morte, formosa dama

Sempre espreita a nova vítima

Nunca pensei vivenciá-la com tanta intensidade

E só muito depois, descobrir sua presença

Aos poucos ela foi se encostando

No velho corpo de meu pai

Dama fogosa, sedenta de vida

No início, sorrateira

Sugando a cor de sua pele

O brilho de seus olhos

A força de suas pernas

O ar de seus pulmões

Oportunista, se aproveitava

Dos curtos passeios pela manha, e

Empoleirava-se sobre os ombros do pobre velho

Que ao peso da dama se curvava quase ao chão.

A filha atenta acudia-o e a dama esperta esperneava.

À mesa ela também se sentava

E nos talheres se assentava

Como era pesado levar até a boca

A imprevisível e horrível dama.

Assim ela foi se acercando

Disputando com as filhas o direito a presa.

Como não perde nunca

Resolveu pelo golpe final

E assim na madrugada

Chegou radiante e certa da vitória.

Não ajudaram as rezas

Não ajudaram as brigas

Acudir o pai foi difícil

Tão pesado estava o frágil corpo

Era a dama já deitada sobre a presa.

Nafelu
Enviado por Nafelu em 25/10/2009
Código do texto: T1886171
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