VIDA DE CARTEIRO
O progresso tirou-lhe a Alma tão ferida
feroz algoz machucando sentimentos,
emudeceu doces lembranças que se foram,
apagou sonhos muitas vezes alimentados,
cultivados ao longo dos anos de trabalho,
pelas longas caminhadas cansativas,
debaixo de sól muitas vezes inclemente,
e chuvas que encharcava seu agasalho.
Profissional que trazia as notícias,
algumas alegres, outras nem tanto,
expectativas até de namorinhos,
numa carta escrita com mesuras,
coraçõezinhos enfeitando seu teôr,
esperando as respostas almejadas,
muitas vezes acendendo um amor,
que depois nos encontros se fazia.
Mensageiro recebido até com festas,
quando trazia notícias alvissareiras,
um convite para participar de alegrias,
que a familia de parentes anunciava,
dos filhos que depois dos namorinhos,
felizes iriam contrair seus matrimônios,
após a cartinha toda cheia de mesuras,
ter as respostas que acenderam um amor.
Lia cartas que chegavam tão distantes,
aguardadas com intensas expectativas,
e quem recebia não conhecia o alfabeto,
por não ter oportunidade de se alfabetizar,
e quando ia lendo as notícias esperadas,
lágrimas escorriam de rostos até crispados,
das rugas que o tempo inclemente já deixou,
pois as saudades nunca foram abandonadas.
Sabia das notícias que já corriam desvairadas,
pois seus pés percorriam todas as alamedas,
casas por casas todas recebiam suas visitas,
algumas até para um pausar de seus cansaços,
num cafézinho gostoso para anunciar as novidades,
notícias de falecimentos que causavam tanta dor,
ou então brigas de casal separando suas uniões,
comentários que alimentavam até surpresas.
Carteiro que o modernismo tirou de cena,
não existe mais para alimentar as ilusões,
as figuras românticas mensageiras do amor,
se apagaram diante das transformações,
necessárias para suprir as contingências,
de um mundo que busca só objetividades,
e com isso a figura amada até por criancinhas,
cessou seu tempo e agora aguarda seu repouso.
23-10-2009