O Condutor
Lembro-me bem de tudo quanto vi
Nesses momentos de viandante,
Os quais por não ter me dado ao guiar
D'Aquele que me quis conduzir,
Seguindo, o meu passo errante
Não me livrou da queda que caí.
Vi-me encurvado e com dores.
Ao passo que os gemidos aumentavam,
Aumentava o deserto nos arredores;
Vi se cumprir algo que os antigos falavam:
"Tempora si fuerint nubila solus eris".
Não há amigos, caros senhores,
Que se sujeitem a padecer no mesmo deserto,
Ou que permaneçam conosco, sob esse nebuloso teto,
Que prestem a devida compaixão por nossos horrores.
Não há, senão Aquele do qual dizia
Que com Sua forte mão me conduzia,
Considerando o quão ferido eu estava,
Desconsiderando o quanto eu O ultrajava
Em minha conduta...
Sem querer O indignava.
Ainda assim não me deixou.
A Sua doce e pura voz,
De maneira que não cabe explicação em palavras,
O meu coração penetrou.
E, por isso a Ele dou graças,
E nestes versos Sua bondade menciono,
Pois para sempre estará em minhas lembranças,
E por Ele viver é o que tenciono.