Ver estrelas
Aqui, no campo, na serra, na penumbra,
Respiro o alívio dos dias passados
Algo que me envolve em um manto tênue
Algo que se perde na brisa da noite
A fria névoa ao luar leva meus dias
e as lágrimas que derramei sobre o chão se absorvem no ciclo da terra
Na varanda a ver estrelas,
em um só momento, o céu se abre na imensidão
de seu próprio corpo celeste,
e seus pequenos olhos faiscam e sussurram
os nomes dos que já se foram
perdidos pela noite afora
seguindo na chuva descalços e entorpecidos
Cada brilho é uma saudade
Cada faísca é uma brasa que se remexe
na fogueira ruidosa das lembranças
É o vento úmido batendo fundo na alma
Eu me levanto aos prantos e agradeço a terra
por estar novamente aqui, apesar de tudo
Lá na mata meus fiéis amigos me esperam depois de tanto tempo
à beira do fogo, de viola na mão e os sonhos no ar
flutuando livres como borboletas negras na noite,
manchas no escuro que se movem mais depressa
do que acompanham os olhos
Pequenas silhuetas que se perdem na busca do infinito,
o brilho perdido das estrelas
A última canção da noite da minha vida
Vou caçando corações no rastro sombrio da solidão
A clareira se escurece e o crepitar do fogo diminui lentamente
ao fechar dos meus olhos
Dessa noite em diante minhas estórias serão contadas, minhas memórias serão sussurradas
e meus pequenos momentos de lucidez me abandonarão no recriar das ilusões
Meu caminho em busca das estrelas se acaba
É aqui que eu fico, nunca sairei da floresta, minha alma permanecerá até o fim
O meu retorno será apenas no último dia, para mais uma vez olhar as estrelas
e celebrar as pequenas coisas
que se perdem no andar apressado do tempo