Meu pai e a vida de fazendeiro no sertão

Um fazendeiro vaqueiro: Meu pai...

Nasci no sertão,

No interior do mato,

E quem brota desse chão

Já vem predestinado.

Terra de duas estações,

Inverno e verão.

E quando a seca chega

Seca tudo que o matuto tem,

Fica em nós a fé de consolação.

Doe na alma do fazendeiro

Quando o animal

Morre de fome e de sede,

Na seca do sertão,

E até a cobra venenosa

Para sobreviver

Suga o sangue

Das rezes indefesas,

Que já caíram no chão.

Sem água pra beber,

O matuto divide

O pouco que lhe resta

Da cacimba do barreiro,

Água com lama

Pra boiada, cavalo, ovelha,

Um burro xucro e um jumento

E a água é dividida,

Na triste sina nordestina

A terra seca o chão,

A lavoura queima e morre..

A família desesperada foge

Do seu querido torrão,

De mala e cuia sai por ai a fora

Bebendo o sumo do mandacaru

Comendo raiz de batata braba

Enchendo o bucho com esmola

Para enganar a fome danada.

O rico fica pobre,

O pobre, miserável

O que resta pro patrão comer

Divide com os vaqueiros.

E com o coração partido

Os olhos cheios d’água

As famílias se separam

E cada um por um caminho

Segue de estrada a fora.

O pobre coitado se vai

E num carro de boi

Segue um novo destino

E pra sobreviver pede ali e acolá

Um pedação de pão,

Pra não ver seu filho chorar!

A mala é um saco e o carro a alpargatas

Os trapos cobrindo o corpo

Muitas vezes vai descalço

Os pés já rachados,

Da quentura do asfalto.

A mulher parida de mês

Fraca, pálida e magra

O consolo do menino é os peitos

Desnutrido...

Já desfalecendo,

Derrepente a maior dor

A morte tão temida lhe visitou

E o nenem agora descansa

No aceiro da estrada,

A sua ultima morada.

O pai desiludido chora a sorte

De perder o seu filhinho amado..

Num meio de uma rodagem

Meu Deus!

Ali ficou meu maior tesouro,

Meu filhinho querido,

Uma benção de Deus,

E agora naquela estrada

Enterrei o meu menino

Marcado com uma cruz

O símbolo da fome no nordeste

E o patrão de coração partido

Pensando naquele pobre coitado

Que tanto lhe ajudou..

Mas a luta continua,

E o nobre fazendeiro

Toma outro rumo

E em terras alheias,

Consegue um emprego decente.

E na roda da vida

De patrão a empregado

Amansador de burro bravo

Peão do gado leiteiro

Vaqueiro bom de laço,

É um guerreiro da seca

Corre o boi na caatinga,

Amarra o boi no mourão,

Não perde o ritmo

Da vida do fazendeiro,

Nas terras do sertão.

bel Salviano

bel Salviano Planeta Poeta
Enviado por bel Salviano Planeta Poeta em 02/08/2009
Reeditado em 31/07/2012
Código do texto: T1732790
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