LEMBRANÇAS DA MINHA VIDA...
Durante anos da minha vida, venho tentando falar um pouco sobre mim... E... perdida, sem saber como começar, choro ao me lembrar, que um dia, era apenas uma linda menina.
Não sei das coisas que tenho saudade, e não posso identificar todas as pessoas que me fazem falta. Me lembro da minha mãe, é... me lembro, de tudo o que vivemos juntas, dos segredos, lágrimas e sorrisos que juntas trocamos. Que dor, que dor e que alegria, sim, sentimentos se misturam, me confundem, e ao mesmo passo que sorrio, choro...
Ainda era uma menina, quando minha mãe ia para a cozinha, fazer o almoço do dia, ela me colocava sobre a pia, e ali, ficava sentada durante horas, sentindo o cheiro do alho que ela queimava, a fumaça do arroz, invadindo a casa, o perfume do seu suor, que minhas narinas amavam. Tenho tantas coisas para me lembrar, mas, sempre me lembro, do carinho da minha mãe, daqueles dias difíceis, daquela pobreza quase que absoluta, do café com farinha, do pão dormido, das frutas e legumes um pouco passadas. É, todos os dias ela ia no sacolão do Nonô, ainda bem cedo, antes de abrir, e ela corria nas caixas, daquelas que estavam, amassadas, e pegava em grande concorrência com as outras mulheres, as frutas e verduras, que por elas, nada pagava. O Nonô mostrava sempre um olhar triste, ao ver minha mãe, se amassando com as outras, para disputar a mesa do dia. Disto eu não tenho tristeza, era bom, aquela correria, e logo em seguida, lá ia, para a padaria, pedir ao dono o pão dormido, ele nunca negou, sempre separou os pães dos dez filhos de Augusta, no açougue os pés de galinha e miúdos, garantia-nos a farra do dia. Era assim, nossa vida, mas, não era ruim. Um dia comìamos mais, outro repartíamos cautelosamente, para que todos pudessem saborear o mexidão da mãezinha. Quero um dia, escrever sobre a estória da minha vida, dos momentos que quase deixei o barco cair, das dores que ainda carrego, sem trocar idéias com ninguém, prefiro não comentar, porque, nem sei, se sendo ouvida, poderei ser mais feliz.
Mas, além das muitas estórias, tenho para dizer, sobre o grande passo que dei, sobre as vitórias e as conquistas, sobre a construção de uma vida, que se pautou nos mais sagrados direitos, de lutar sem medo, de ir para a guerra, com fé. Posso dizer, que sou uma grande mulher, e, que minha mãe, me fez assim, me criou para ser assim, me deu seu ar, e se precisasse certamente me daria sua vida. Ainda, pretendo editar um livro, para mostrar ao mundo, que não há diferença social, racial, intelectual, que tudo isto, superamos, quando acreditamos em Deus.
.... é, dar a volta por cima, é vencer simplesmente o medo, e este, eu o venci...