Memórias de um dia frio
Ainda me lembro
Do cheiro da madeira do piano em que mamãe tocava
Enquanto eu lhe molhava a barra da saia
Com problemas fúteis de menina
Ainda lembro do toque macio da colcha de retalhos
Que cobria toda a cama da minha avó
Naquele quarto,o silencio era tão aconchegante
Quanto a lareira acesa nas noites de neve
Na sala,em cima do móvel
Ainda tem a marca do velho aquário
Aquela redoma de vidro transparente
Que parecia triplicar o tamanho do dourado que lá habitava
No velho baú,ainda jazem as camisolas de algodão
Todas próprias para aquele corpo de pouca vivencia
E escondidas debaixo dessas
As ceroulas gigantes que vovó me fazia usar
Daquele tempo,também me recordo do cheiro quente de chá
Vezes de erva-doce,vezes de pêssego
Mas sempre com aquela mesma quentura gostosa
Que me fazia dormir no tapete em meio as conversas
Em meio a essas lembranças felizes e ingênuas
Uma nunca me saiu da cabeça:
A da menina descalça que me olhava triste da cozinha
Sempre sozinha,sempre descalça e suja de fuligem...