Calçada de Hematita
Minha antiga rua traz saudades,
dos tempos que não voltam mais;
o velho se foi, o novo envelheceu,
não adianta mais olhar pra trás.
Até a poética calçada de hematita,
azul brilhante nas tardes chuvosas,
há anos que ousaram retirar.
Nossa casa amarela tiraram de cena,
levando junto dela saudáveis histórias,
deixando em seu lugar o grande edifício.
O bougainville sempre tão florido,
que ornamentava a cerca do Taim,
teve também de ser arrancado.
Aquela meninada alegre, tão arteira,
cresceu, mudou-se, são agora avós
Os vizinhos se foram, ou Deus os levou,
até o meu pai, desta vida já partiu.
A barroca igrejinha deu nome à rua,
que há tempos é Travessa da Saúde;
aquele cenário ressurge-me em sonhos,
e me fazem reviver a antiga alegria.
Tão belo e bucólico era o nosso beco,
parecia um presépio exposto ao ar livre.
A gente achava tudo aquilo definitivo,
nosso chão, nosso tempo, nossa gente,
só a realidade é que não soube ajudar.