MARCAS
Nuvem de terra alaranjada,
pinta os pequenos pés, aos
pés da porta da entrada,
marcando a branca pele;
feito tatuagem que fere, em menina levada,
que tem saias salpicadas pelas traças,
jeito triste, emoldurando toda graça,
cujo compasso, em vão, disfarça,
passeando os passos pela paciência da mãe,
que costura, em silêncio, a bainha,
o viés, aliviando a ladainha
alinhavando a espera,
do viajante.
Para a menina, herói distante,
sério retrato na estante, surrava toda saudade,
e o hino daquela tarde, adormecia na pouca idade.
Pião, bambolê, bola de gude.
Buscando arco-íris e a tudo,
tudo que ilude.
Reconhecer-se nessa ternura, lhe doía.
Queria ruptura, vulcões, ventanias, mas
nascera daquele ventre, banhado de candura,
e por mais rebelde sangue de pai,
herdara também a doçura;
e enquanto se rebelava...dura, vasculhava,
qualquer palavra, que a fizesse reverso,
Poesia, um verso...que a combatesse, num
mar de afeto em face submersa.
Nesse estado da não-poesia, os
retalhos de sabedorias, cobriam
aqueles dias, onde à mesa tinha os meninos,
esfomeados gestos masculinos,
café com leite, pão, manteiga, rádio de pilha;
histórias de mãe pra filha; e a menina
querendo correr feito eles...ter aqueles desafios,
braços fortes, arredios...Ah! os homens...
Porque eles podiam ir?
E olhos se voltavam para a mãe, em silêncio,
querendo respostas, sorrisos, socorro,
um aceno, que fosse...
Mas havia a ausência de palavras,
e a cova aberta pelo não dito,
abria um porão maldito, de travas,
roubando a luz das que nasceram para usar saias,
Em praias masculinas, genuínas!
E os pés alaranjados de terra,
De útero, ovários e mamas,
marca adornada das damas,
do compasso de espera,
que toma vez,
redesenha toda tez, em ninhos inversos;
E a menina...Ah! a menina...
Escrevia outro final; uma rima,
coisas pra enganar seu dolorir,
das pequenas garras arrancadas,
afiadas!...
Por ter toda uma pátria a parir.