“Reminiscência”
(Luiz Henrique)


Menino de bairro suburbano
Pobre, inquieto, imberbe e perdido
Desejoso e receptivo ao profano
Ousou lançar-se ao desconhecido

Crédulo, tal qual Agostinho
Confiante no amor, pregando paz
Mas mal sabia o rapazinho
Quão rápido o juvenil ideário jas

Haviam meninas bobonas
Virgens e disponíveis pra namorar
Inda que simplórias e cafonas
Delicias intactas e ávidas pra amar

Poderia sim, tê-las aos montes
De certo todas aptas a fazê-lo feliz
Mas deu de beber noutras fontes
E decidiu tentar a sorte, como se diz

Mas o próprio amor tem
Suas razões, mistérios e armadilhas
Nem sempre se quer bem
A quem nos atende como forquilhas

Mas julgava - e era - pura pretensão
Nutrir certo amor impossível e improvável
Habitava seu pensamento e coração
Uma mulher madura, de beleza invejável

Aos seus olhos era, da corte, a Princesa
De outra idade, outro reino, outra vida, outro mundo
Vestes, rosto, corpo – tudo rara beleza
Distante e intangível ao seu olhar simplório e profundo

Guardava em silêncio absoluto suas palavras
O segredo do seu amor sabidamente impossível
Suas lágrimas corriam, como do vulcão as lavras
Mas certa vez seu olhar traidor, expressou o indizível

Um dia vem a pergunta repentina
Direta, em público, em meio à exposição
Você me ama? E a galera aglutina
E ficaram esperando uma resposta, em vão
O rolar de lágrimas foi derradeira afirmação
De resto a mágoa que ainda hoje obstina

Não creio tivesse ela o direito
De maldosamente desmascarar o seu amor
Se seu segredo não era perfeito
Se o sentimento ficava encarcerado no peito
Por que o humilhar? Por que o expor?

E como se diz: “quem cala consente”
O silêncio provou na frente de toda gente
Que quem ama, ainda que secretamente
Pelo olhar expressa o que se sente
E infelizmente
Não mente ...






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