Instantes
O caminho do incógnito abriu-se à minha face.
Uma nova urbe que soube pertencer-me como a tantos outros.
Ouvi o ecoar das eras perante o meu olhar maravilhado e soube-me no lugar correto.
Deparei-me com quem percorresse o caminho comigo,
Quem me mostrasse o reino esquecido, representado por chamas e numerações.
Vi-me num mundo de homens onde cada passo era um pulo de reflexão
E a sorte orientava o caminho selecionado por ti.
Tu
Que me dirigia os passos,
Que conhecia a minha voz.
Cresci a cada rolar do dado e compreendi-me mais fortificada,
Aquela que fui, dizia com a minha voz e reverenciava o teu olhar,
O inalcançável sorriso que arremessavas à distância.
E o teu vulto foi crescendo em mim com um extraordinário poder
Como se o mundo em que vivias fosse mais real do que julguei no começo.
Mas a frieza dos dias colidiu com o sutil ilusório
E a jornada acabou bem dantes da sua culminância.
Vi-te partir, remetida ao silêncio constrangido de quem admite o fim imperturbável.
Seguirias um novo caminho com o qual não julguei atravessar-me novamente.
Estava perdida.
Talvez os dados deste destino sejam ainda mais requintados,
Talvez não consiga investigar a sua naturalidade,
Mas a verdade é que a surpresa me regou de uma nova irritação.
Surpreendi-me a cada palavra que partilhamos como se jamais tivesse dito tão verdadeiramente na vida,
Senti a leveza da calma que me transmitias, a claridade da tua pele que parecia tão habitual.
Aprendi a olhar-te como jamais dantes tinha feito e senti-me feliz por te reconhecer em mim.
Dos teus lábios saíam palavras de uma linguagem diferente que eu entendi mesmo dantes de o conhecer,
Falavas o idioma do caos e semeaste em mim uma nova alegria.
Talvez pertenças ao tempo e ele te afastes de mim para sempre,
Talvez sejas da matéria do sonho e não existas exceto em mim.
Talvez sejas apenas a luz ruborizada daquela lua que nos contemplou...
Mas naquele instante o teu olhar foi meu
E isso… é que me interessa.