O Largo

A brisa sopra tocante e excitantemente...

Pessoas a passar...

Columbiformes a voar...

Todos com leveza, outros com moleza

Aqui, tendem a descansar.

Sentados nos bancos e afins, compartilham os mesmos espaços.

Como se não existissem diferenças.

E, mesmo com o abandono e a negligência,

Sente-se a harmonia do local.

Interrompida, passiva e despreocupadamente

Pelo barulho e emissões dos automóveis

Ou pela maquinaria da construção civil, causando desordem.

No momento, uma sirene...casual,

Somente fuga do trânsito enfurecido do local.

Mas a sonoridade coerente é reencontrada e restituída

Na agitação das aves locais e na correria das crianças que tentam pegá-las,

Seguidas por um choro copioso e decepcionado, somado às gargalhadas dos pais.

Ah... infância. Ah... inocência.

E nos estudantes que aplaudem, brincam, namoram...

Ah...vivacidade. Ah... adolescência.

Nossa alma é embevecida e arrebatada,

Pelas canções instrumentais dum artista do povo

Misturando-se com o anúncio do vendedor, que vai deixando o local de novo.

No centro há um imponente chafariz,

Ativado em momentos, levando beleza a qualquer olhar.

Árvores num balanço repetitivo, casais com olhares famintos.

Idosos trocando cartas e lançando palavras ao ar

Unem-se aos mais jovens, que absorvem-lhes as experiências, sem cansar.

Todos observam e desfrutam do aparente nada,

Como se soubessem que aqueles instantes são mágicos.

E que nossas vidas necessitam de momentos como esse.

Conversas são iniciadas com companheiros desconhecidos

Outros falam com seus respectivos corações.

O sol brilha, tocando-nos como um amigo.

Ninguém está só... definitivamente.

É chegado o momento de deixar o local.

Triste fico em saber que sou esperado novamente no mundo real.

Forçado a deixar para trás esse instante sublime, feliz, revigorante, infinito em minha memória...

Mas outros sentarão no meu lugar.

E sei que sempre posso voltar e desfrutar de novas conjunturas.

Desejo que os presentes percebam cada detalhe plenamente,

Aproveitando cada segundo aqui,

Pois também sentirão saudades, como eu, quando deixá-lo.

Igor Costa

(PRODUZIDA NAS INÚMERAS TARDES DE ESPERA PELA HORA DE IR À ESCOLA, NA QUAL LECIONAVA, NO LARGO DO MACHADO - RIO DE JANEIRO/RJ)