MÃE, MÃE, MÃE, MÃE, MÃE, MÃE...

(Nunca senti necessidade de explicar nada extra-texto até agora. Mas sempre há uma primeira vez... Esta época para mim representa a proximidade do aniversário de nascimento de minha falecida mãe (além de ser a semana que antecede ao comemorativo dia delas todas...) Pois não é que tentei escrever sobre ela, mas só consegui extrair este textinho aí abaixo... O tema me abalou de uma forma ímpar, como não imaginara mais ser possível nesta altura da minha vida...

Incrível como tudo é visto e sentido por mim de modo tão egoísta e pretensioso, mas, assim mesmo, desta vez não me furtarei como já o fiz em outras ocasiões em que regateei a postagem do escrito, por entender que, assim, me auto-preservaria (de mim mesmo!). É... O interior da gente é algo estranho... Repeti "mãe" várias vezes no título, porque senti uma imensa saudade de falar "mãe" pensando no rosto dela... Uma vez só não iria aplacar-me este desejo... Afinal, faz tanto tempo... Tantos anos, né mãe, mãe...)

Eu era carona na marginal...

Na vizinha cidade pacata

Ocorreria um enterro a mais

Seu corpo jazia lacrado

Não, não era por vaidade...

Pois sua luz sempre acharia caminho

Pelos vãos dos parafusos

Daquele esquife indevassável

Imaginava os presentes ali parados, quietos

Interiormente irrequietos e difusos

Ruminando dialetos secretos,

Impagáveis na confusão incompleta

De seus indefesos intelectos...

E eu carona na marginal, retornava...

Não entendia mais o que seria um retorno

Ignorava completamente

Porque aquela imensa carreata andava

Por aquelas pistas sonoras, molhadas

Para onde afinal iriam,

O que de verdade quereriam

Daquela ignota vida escrava...

Mas eles iam e iam, falavam e sorriam

E, incrível, não achavam que iriam para a morte

Apenas entendiam que sim, chegariam...

População de muita, mas de muita sorte...

Eu era carona na marginal...

A cabeça vazia, de tão indigesta

No peito aquela dor muda, longa...

Nas laterais da visão

Cortava um negro

Em uma infinita linha reta

Tentando esconder-me

O que seria sua imensa falta

E eu tão quebradiço, disto,

Ainda a não saber...

Eu era carona na marginal...

Naquele regresso imbecil,

Naquele trânsito infernal

Pois até hoje não encontrei

Esse tal caminho de volta,

Nem uma satisfatória resposta

Sobre a vida, sobre a morte

Sobre esse estúpido e inútil vazio

A que seu sumiço me transporta...