FRAGMENTOS

FRAGMENTOS

A casa estava lá, na Rua Independência.

Aqueles que habitaram-na, não mais se encontravam .

Deixaram sonhos, marcas, cicatrizes, esperanças

e lembranças para quem tanto amavam.

Paradoxal era a situação daquela casa.

Encontrava-se vazia porque os donos haviam partido.

Também cheia, todos seus pertences permaneciam

à espera de um destino; o dever fora cumprido.

Às filhas, a primogênita e a caçula ,

coube a difícil tarefa de encontrar o tal destino

pra tudo, desde o grande ao pequeno objeto.

Jogar...

Guardar...

Doar...

Mais parecia um desatino.

Sensações de cheiro, de voz e de passos,

minuto a minuto as enganavam.

E cada objeto que era tocado

lhes dava a certeza de que ali eles estavam.

A saudade crescia, os corações palpitavam.

Pairava a dúvida: mentira ou verdade?

A tarefa continuava e , de repente, tudo se misturou...

Mentira ... verdade... sonho... realidade...

Trechos de cartas e de poesias foram lidos.

Fotos amareladas pelo tempo traziam o passado.

Quadros, que antes enfeitavam as paredes da casa,

tristemente se encontravam desbotados.

Muito se doou, mudou-se pra outra casa.

O valor sentimental falou alto, muito se guardou.

Infelizmente, o uso do lixo não fora descartado

e pra lá, misturado às lágrimas, muito se jogou.

Se tudo tivesse sido diferente!

Se nada fosse doado, jogado ou guardado,

em sua essência, a casa continuaria vazia,

Porém repleta de fragmentos amontoados.

ANAMAUER

30/04/2009