As cinzas da máscara
Sei que não aceitas minhas desculpas que errei demais dessa vez, houve outras também eu sei. Mas a vida tem dessas coisas mesmo, aí nos cabem os títulos de loucos ou grosseiros, difere apenas os gêneros.
Escuto muito pouco, os sons se perdem antes de chegarem a mim, ficam as tuas falas e um presente, que recebi pra compensar nossa ausência. Ao desembrulhar vi era o sorriso teu. Guardei-o pra mim. Quando triste estou recorro á ele, e reconstruo minhas asas feridas cansadas de tentar vôos e não subir.
Como é fácil cair quando não há chegada, como é fácil entregar-se ao silencio quando ninguém te ouve ou simplesmente te ignora. Aí as palavras não me servem, pouco me importa. Elas já deixam de lado os momentos que me em pulsam.
Daqui vou pra bem longe, onde dormem os sonhos.
Os barcos partem e vejo que todos os anos do porto não foram perdidos, apenas passados.
Sei não há mais laços, quem sabe reste um amanhã findando o congelamento da minha presença em seu pensamento.
Um pouco da arte que que ultrapassa qualquer limite...
Inverno
Adriana Calcanhotto
Composição: Adriana Calcanhoto/Antonio Cícero
No dia em que fui mais feliz
eu vi um avião
se espelhar no seu olhar até sumir
De lá pra cá não sei
caminho ao longo do canal
faço longas cartas pra ninguém
e o inverno no Leblon é quase glacial
Há algo que jamais esclareceu
onde foi exatamente que larguei
naquele dia mesmo
o leão que sempre cavalguei
Lá mesmo esqueci que o destino
sempre me quis só
no deserto sem saudade, sem remorso só
sem amarras, barco embriagado ao mar
Não sei o que em mim
só quer me lembrar
que um dia o céu
reuniu-se à terra um instante por nós dois...