TEMPOS DE TARAMELAS
Sharik Letak
Tempos que a tramela
Que eu nem sabia
Que podia
Ser taramela,
Era kit
De segurança.
Tempos de pular
A janela,
E fugir
Para o riacho,
Para nadar
Pelado,
Sem um pedófilo.
Ou tarado,
De lado.
Tempos de pés no chão
De correr descalço,
De rolar pelo chão.
Tempos de cantorias
De folia
O dia inteiro,
Correndo pelo terreiro.
Tempos de trepadeiras
Subindo nas cumeeiras.
Tempos de soltar
Balão,
De fogueiras
De São João.
Tempos de priminhas,
De briguinhas,
Piadinhas,
Risadinhas
De corar.
Tempos de embirrar,
De chorar
Por coisa atoa,
Só pra mãezinha
Mimar.
Tempos de estilingue,
De passarinhos,
De alçapão,
De rodar um pião.
Tempos que malcriação
Dava em surra,
ou em tunda,
Com chineladas,
“Nas nádegas da bunda”(*).
Tempos que não se esquecem,
Na memória permanecem
Mas que não podem voltar,
Pois hoje
As priminhas
E os pais
Só teem uma distração:
Novelas e camisinhas
Fazendo sempre birrinhas
Diante da televisão!
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Explicações para uma geração “moderna” que não sabe o que é tramela e não cultiva o hábito da leitura e nunca ouviu falar de José Mauro de Vasconcelos:
Tramela ou taramela: Pequeno pedaço de mateira, que gira sobre um prego, para prender as portas, que substitui a fechadura em casas pobres.
(*)“Nas nádegas da bunda”. Termo usado pelo menino Zezé, em diálogo com a professora Célia Paim, no romance “Meu pé de laranja lima”, de José Mauro de Vasconcelos.