Letras bêbadas

Por incrível que pareça

Nunca fui muito chegado a poesias

Achava ruim à beça

Quando na escola interpretações fazia

Também naqueles tempos juvenis

Só conheci poeta com jeitinho afeminado

Hoje vejo que eram preconceitos infantis

Pelo machismo estive contaminado

Foi quando um dia me peguei amargurado

Numa mesa de bar minhas mágoas bebendo

Que vi na parede um belo poema postado

E embriagado fui lendo e tantas vezes relendo

Eram letras de um poeta ilustre da minha cidade

Que costumava freqüentar aquele bar nas noites

Morrera precocemente deixando versos e saudades

E um poema na parede fustigando-me como açoite

O poema de Carlos Pena Filho eu jamais esqueci

Dizia exatamente assim os versos que li e reli:

“Por isso aqui no Bar Savoy

O refrão será sempre assim:

São trinta copos de chope

São trintas homens sentados

São trezentos desejos presos

Trinta mil sonhos frustrados”.

A partir daquele dia

Eu jurei pra mim mesmo sem o saber

Finalmente tocado pela poesia:

Um dia poemas haveria de escrever

Angelo Tomasini
Enviado por Angelo Tomasini em 24/03/2009
Reeditado em 26/03/2009
Código do texto: T1503340
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