Letras bêbadas
Por incrível que pareça
Nunca fui muito chegado a poesias
Achava ruim à beça
Quando na escola interpretações fazia
Também naqueles tempos juvenis
Só conheci poeta com jeitinho afeminado
Hoje vejo que eram preconceitos infantis
Pelo machismo estive contaminado
Foi quando um dia me peguei amargurado
Numa mesa de bar minhas mágoas bebendo
Que vi na parede um belo poema postado
E embriagado fui lendo e tantas vezes relendo
Eram letras de um poeta ilustre da minha cidade
Que costumava freqüentar aquele bar nas noites
Morrera precocemente deixando versos e saudades
E um poema na parede fustigando-me como açoite
O poema de Carlos Pena Filho eu jamais esqueci
Dizia exatamente assim os versos que li e reli:
“Por isso aqui no Bar Savoy
O refrão será sempre assim:
São trinta copos de chope
São trintas homens sentados
São trezentos desejos presos
Trinta mil sonhos frustrados”.
A partir daquele dia
Eu jurei pra mim mesmo sem o saber
Finalmente tocado pela poesia:
Um dia poemas haveria de escrever