VIVA LAMARCA!
(Natal - 1972)
Na parede do Quartel do RO em Natal
não foi ele quem escreveu
"VIVA LA MARCA!"
E olhem só:
Foi preso, foi desnudado,
foi na parede encostado
para, assim, descobrir
os seus possíveis comparsas
que estavam a "denegrir"
sua Nação, sua Pátria
O Brasil - seu belo Porvir!
Mas ele somente quis
mostrar para o Coronel
Que alguém havia escrito
na guarita do Quartel
aquela frase "ultrajante"
que ele,
como aspirante à carreira militar,
não conseguia calar.
E daí a alguns instantes
já estava na lista negra
o seu nome banhado em fel,
à sua sorte lacrar!
Dezesseis adolescentes,
contando com ele, então
foram presos, em quarentena
sem que surgisse o "machão"
para assumir sua culpa
pela "maldita" inscrição
que levou aqueles jovens
à tão grande humilhação.
E ele, que bem sabia
quem foi que a frase escreveu,
com quarenta e cinco dias
de penúria, resolveu
assumir p'ra si a culpa
pensando assim consigo:
- Eu assumo e ele confessa!
Porém isso não se deu.
E o Coronel liberou
os outros quinze acusados.
Daí por diante, coitado!
triste foi seu desatino!
Pois o "amigo", covarde,
que num ato repentino
escreveu aquela frase,
para a época, tão grave!
Quase mudou o destino
de uma forma radical
daquele pobre menino.
Passou trinta dias preso.
Nu. Numa cela vazia.
Sem colchão, sem cobertor.
No chão molhado dormia.
Comendo racionado
e pouca água bebia.
O corpo sempre encharcado,
de frio ele estremecia.
Sempre mui bem vigiado
por guardas que, bem armados,
não o deixavam noite e dia.
Em seus dedos eles puseram
fios que, energizados,
colocados em tomadas,
choques lhe eram provocados.
Numa tortura atroz!
Um militar como algoz
do infeliz adolescente
que nada fez! Era inocente
do que lhe fora imputado.
Ficou num estado horrível
de nervos!
E a depressão apossou-se do seu ser.
Uma terrível tensão
tomou-lhe conta do corpo.
E em forte comoção
tentou se suicidar
com o que lhe caiu às mãos:
Pegando um quengo de coco
que usava como copo,
enchendo-o de creolina
e tomou-a de sopetão.
E depois de muito sofrer,
decidiu, por fim, criar
personagens fictícios
que poderiam estar
ligados ao Comunismo,
para, assim, se livrar,
por uns tempos, das torturas...
Pois os "deuses do poder"
o viviam a torturar.
Ataques imaginários!
Senha que não existia!
Datas, locais inventados!
Era assim que ele fazia
para espairecer um pouco
daquela lenta agonia
que o punha quase louco
com o sofrimento e o sufoco
que era o seu dia-a-dia.
Por vezes pensou fugir
para escapar ao terror,
à pressão, ao sofrimento.
E ao irmão comunicou
o que fazer pretendia,
quando este o visitou,
em um descuido da guarda,
num mapa que colocou
dentro de uma antena oca
de um rádio à pilha que ouvia
e que p'ra casa mandou.
Sua mãe desesperou-se
ao vê-lo tão desprezado:
numa cela, quase nu,
com febre e "desarranjado"
com uma desidratação
que lhe fora provocada
quando ingeriu creolina,
enfrentou, pois, toda a guarda
e falou com o comandante
suplicando-lhe, arrasada!...
que lhe entregasse seu filho
prometendo que assumiria
o que dali por diangte
ele viesse a fazer,
até ser inocentado.
E os "Senhores do Poder",
"Deuses da Sabedoria"
entregaram-lhe o pobre jovem,
que eles muito bem sabiam:
nada tinha de "errado"!
...
nem mesmo o que era Comunismo
o desgraçado sabia!
...
Mas ficaram com os documentos
que ao garoto pertenciam
para só lhe devolverem
dali a mais uns dois anos.
Que era como faziam
quando exluiam alguém
que eles achavam "por bem"!
Que ao Exército não "merecia"!
E... assim... seus sonhos se foram!...
...
Pois ele, que almejou
um dia, tornar-se um "grande"...
como militar, "gorou".
Além disso, foi pechado
de traidor e mandado
embora! sem o louvor
que sonhara quando menino
ao ouvir o belo hino
da Mãe Pátria que o gerou.
Hoje!...
Após tantos anos...
só a lembrança restou!
...
E o Coronel?!...
Nem se lembra
de quanto mal provocou
àquele jovem inocente,
apenas um adolescente!...
como tantos outros jovens
que a vida machucou
devido a maldade humana
concentrada em alguns homens
que a Natureza criou...
...assim... como o Coronel
que mandava no Quartel
onde aquele jovem ingênuo,
pensando servir à Pátria,
por amor, incorporou.
É assim!...
A vida é assim!
O que hoje está errado,
amanhã pode estar certo!
O que se põe, de início,
como sendo, hoje, ilícito!
Amanhã, pode não ser!
Ser legal...
Ser natural que venha a acontecer.
O agora proibido aos jovens,
em qualquer sentido,
amanhã poderá vir
a ser livre - "liberado"...
E o ato, hoje condenado,
livre, amanhã, pode ser.
(Natal - 1972)
Na parede do Quartel do RO em Natal
não foi ele quem escreveu
"VIVA LA MARCA!"
E olhem só:
Foi preso, foi desnudado,
foi na parede encostado
para, assim, descobrir
os seus possíveis comparsas
que estavam a "denegrir"
sua Nação, sua Pátria
O Brasil - seu belo Porvir!
Mas ele somente quis
mostrar para o Coronel
Que alguém havia escrito
na guarita do Quartel
aquela frase "ultrajante"
que ele,
como aspirante à carreira militar,
não conseguia calar.
E daí a alguns instantes
já estava na lista negra
o seu nome banhado em fel,
à sua sorte lacrar!
Dezesseis adolescentes,
contando com ele, então
foram presos, em quarentena
sem que surgisse o "machão"
para assumir sua culpa
pela "maldita" inscrição
que levou aqueles jovens
à tão grande humilhação.
E ele, que bem sabia
quem foi que a frase escreveu,
com quarenta e cinco dias
de penúria, resolveu
assumir p'ra si a culpa
pensando assim consigo:
- Eu assumo e ele confessa!
Porém isso não se deu.
E o Coronel liberou
os outros quinze acusados.
Daí por diante, coitado!
triste foi seu desatino!
Pois o "amigo", covarde,
que num ato repentino
escreveu aquela frase,
para a época, tão grave!
Quase mudou o destino
de uma forma radical
daquele pobre menino.
Passou trinta dias preso.
Nu. Numa cela vazia.
Sem colchão, sem cobertor.
No chão molhado dormia.
Comendo racionado
e pouca água bebia.
O corpo sempre encharcado,
de frio ele estremecia.
Sempre mui bem vigiado
por guardas que, bem armados,
não o deixavam noite e dia.
Em seus dedos eles puseram
fios que, energizados,
colocados em tomadas,
choques lhe eram provocados.
Numa tortura atroz!
Um militar como algoz
do infeliz adolescente
que nada fez! Era inocente
do que lhe fora imputado.
Ficou num estado horrível
de nervos!
E a depressão apossou-se do seu ser.
Uma terrível tensão
tomou-lhe conta do corpo.
E em forte comoção
tentou se suicidar
com o que lhe caiu às mãos:
Pegando um quengo de coco
que usava como copo,
enchendo-o de creolina
e tomou-a de sopetão.
E depois de muito sofrer,
decidiu, por fim, criar
personagens fictícios
que poderiam estar
ligados ao Comunismo,
para, assim, se livrar,
por uns tempos, das torturas...
Pois os "deuses do poder"
o viviam a torturar.
Ataques imaginários!
Senha que não existia!
Datas, locais inventados!
Era assim que ele fazia
para espairecer um pouco
daquela lenta agonia
que o punha quase louco
com o sofrimento e o sufoco
que era o seu dia-a-dia.
Por vezes pensou fugir
para escapar ao terror,
à pressão, ao sofrimento.
E ao irmão comunicou
o que fazer pretendia,
quando este o visitou,
em um descuido da guarda,
num mapa que colocou
dentro de uma antena oca
de um rádio à pilha que ouvia
e que p'ra casa mandou.
Sua mãe desesperou-se
ao vê-lo tão desprezado:
numa cela, quase nu,
com febre e "desarranjado"
com uma desidratação
que lhe fora provocada
quando ingeriu creolina,
enfrentou, pois, toda a guarda
e falou com o comandante
suplicando-lhe, arrasada!...
que lhe entregasse seu filho
prometendo que assumiria
o que dali por diangte
ele viesse a fazer,
até ser inocentado.
E os "Senhores do Poder",
"Deuses da Sabedoria"
entregaram-lhe o pobre jovem,
que eles muito bem sabiam:
nada tinha de "errado"!
...
nem mesmo o que era Comunismo
o desgraçado sabia!
...
Mas ficaram com os documentos
que ao garoto pertenciam
para só lhe devolverem
dali a mais uns dois anos.
Que era como faziam
quando exluiam alguém
que eles achavam "por bem"!
Que ao Exército não "merecia"!
E... assim... seus sonhos se foram!...
...
Pois ele, que almejou
um dia, tornar-se um "grande"...
como militar, "gorou".
Além disso, foi pechado
de traidor e mandado
embora! sem o louvor
que sonhara quando menino
ao ouvir o belo hino
da Mãe Pátria que o gerou.
Hoje!...
Após tantos anos...
só a lembrança restou!
...
E o Coronel?!...
Nem se lembra
de quanto mal provocou
àquele jovem inocente,
apenas um adolescente!...
como tantos outros jovens
que a vida machucou
devido a maldade humana
concentrada em alguns homens
que a Natureza criou...
...assim... como o Coronel
que mandava no Quartel
onde aquele jovem ingênuo,
pensando servir à Pátria,
por amor, incorporou.
É assim!...
A vida é assim!
O que hoje está errado,
amanhã pode estar certo!
O que se põe, de início,
como sendo, hoje, ilícito!
Amanhã, pode não ser!
Ser legal...
Ser natural que venha a acontecer.
O agora proibido aos jovens,
em qualquer sentido,
amanhã poderá vir
a ser livre - "liberado"...
E o ato, hoje condenado,
livre, amanhã, pode ser.
Rosa Ramos Regis
Natal/RN - 1999.
Natal/RN - 1999.