A velha mestra

Curvada pelo peso dos anos, a velhinha

Caminha lentamente à minha frente;

Passo difícil, certamente, mas a sustinha

Aquela força invisível, aquele ânimo profundo,

Que o enfrentar das tempestades dá ao navegante

Dos mares sem deuses deste mundo!...

Parou, pensando atravessar a rua, hesitante;

Aproximei-me e, solícito, tomei-lhe a mão,

E ela se deixou levar, confiante.

No outro lado, fitou-me, e com um brilho

Novo no olhar, exclamou, sorridente:

-"Mas, Tonico! És tu, meu filho?"

Era Dona Concita, a minha mestra do primário!

Era a velha professora a lembrar-se

Quarenta anos anos depois - fato extraordinário! -

Do meu apelido familiar, detestável apelido,

Que o garoto de outrora abominava, mas que o homem

De hoje, agora ouvia, profundamente comovido!

Santiago Cabral
Enviado por Santiago Cabral em 02/02/2009
Código do texto: T1418252
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