SUTILMENTE... A crônica de uma separação

Uma pluma solta no ar, numa tarde de vento calmo...

O palpitar das asas da borboleta pousada em lírio branco...

Um fiapo de linha num paletó de lã...

Um floco de neve pousando na janela...

A gota de vinho caída na toalha de linho...

Lugares comuns que descrevem uma sutilidade...

Quem seria tão sutil de sentimentos para ver isso tudo?

Quem teria o coração sensível para sentir o que vê?

Quem moveria lentamente os olhos para ver o suave?

Só quem amasse de verdade...

Só quem tivesse um verdadeiro amor no coração...

Só quem não mais visse outra chance na vida...

Assim foi que sutilmente, muito sutilmente,

como pluma no ar,

borboleta,

fiapos e flocos e gotas,

esse coração sensível sentiu o afastamento de seu amado...

E sofreu...

...E o vinho se tornou sangue em sua dor...

E o floco gelou em sua alma...

E o fiapo caiu ao chão e foi varrido...

E a pluma afinal pousou no gramado verde...

E como a borboleta seu amor foi se afastando...

Afastando...

E seu doce coração percebeu sua distância,

Tão sutilmente como tudo o que foi dito...

E para não mais ouvir sua voz, em noites de amor,

Não ver seus verdes olhos pedindo carícias,

Seu sorriso aberto e claro e satisfeito...

Não mais ver que ele se afastava...

Ela se afastou de seu amor,

Sem rusgas, sem palavras,

Sem alardes e se foi para bem longe...

Muito longe...

Somente uma vez olhou para trás

Num olhar comprido, sofrido.

...E se afastou...

Para nunca mais voltar...

Para nunca mais esquecê-lo...

Para nunca mais vê-lo...

Deixou para trás somente o direito dele ser livre...

Ainda vê a pluma, o floco, o fiapo,

A gota e a borboleta

Como sonhos de lembrança

E de saudade.

Rachel dos Santos Dias
Enviado por Rachel dos Santos Dias em 27/01/2009
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