Araçatuba, Meu Amor
Bom é lembrar tua praça,
A Rui Barbosa,
Povoada de crianças amalucadas,
Felizes, correndo ao redor
Da tua fonte luminosa,
Com tua banda municipal no coreto!
Volto no tempo e vejo
Teus moços e moças no 'footing',
Do São Francisco ao Bandeirantes,
Da Princesa Isabel à Osvaldo Cruz.
Por um momento, se era cedo,
Víamos os discos espalhados
No chão da Arapuã ou da Norogás.
Se demorávamos em casa,
Vinham os rapazes de lambreta,
Suéteres nos ombros, descendo a Barão,
A ver as moças, em pencas,
Subindo, se rindo, de braços dados,
Uma delas com o coração na boca
Por causa do moço da garupa.
Em dias de chuva ou de Carnaval,
Parávamos, barulhentas, nas vitrines da Marechal,
E teus moços não passavam indiferentes
Em suas capas e guarda-chuvas.
Do sábado ou domingo de Natal,
Lembro o meu rosto empoado,o batom,
O vestido azul, de renda,
Os sapatos de salto. Lembro os meus olhos
Faiscando,correndo os bancos, as esquinas,
Os grupinhos de teus moços e mocinhas.
Se parávamos, conversávamos por um instante,
Porque assim é que era direito,
Se não éramos abusadas.
Se voltávamos acompanhadas,
Todas as outras moças
Iam mais atrás,
Cuidadosas, maliciosas, invejosas,
Amigas a se rirem
Do novo par formado.
Assim eram teus fins de semana,
Minhas férias, anos idos,
Terra querida, em que vi chegar
Nosso primeiro fogão a gás,
De chamas muito azuis.
Recordo os tempos do Instituto
'Manoel Bento da Cruz',
As minhas amigas
Beth, Lisinha, Áurea, Terezinha,
As gêmeas Neuza e Nilza,
As irmãs Alice e Eunice,
Do colégio de freiras,
E suas primas Vera e Lúcia;
Minhas irmãs Gladys e Nadir.
E os moços, bem, os nomes
Dos moços, esses não digo, não,
Que hoje são, com certeza, casados,
Pais, avós, falecidos,
E tudo isso ficou no tempo
Perdido ou guardado no coração.
Lembranças passadas a limpo
De teu céu aberto, dos primeiros prédios teus.
Minha doce e linda terra natal,
A ti essas lembranças
De infância e juventude em ti vividas.