Confissão
Sim tive vergonha,
receio e medo
Não consigo definir
as razões do não
Certo é, porém,
que eu não escreví
Durante muito tempo
matei a poesia
Assassinei seu direito
de cantar e sorrir
Submeti os versos
ao escuro da noite
Motivos que agora sei
foram fúteis
Vergonha incontida
de não compor boas rimas
Como se o aplauso
fosse adjetivo fundamental
Ao verbo e à verve
Tremi frente aos inimigos
Eternos algozes da poesia ...
Nutri o receio de criar
versos rudes ou ásperos
Muito andei e hoje sei ,
Não haverá unanimidade
Elidi todo o cheiro de medo
Perfume sempre presente
nos julgamentos cruéis
Celebrei em solitário brinde
o que chamam maturidade
Criei meus versos
sem temer o veredicto
Aprendi que o ato de julgar
é um velho costume humano
Tradicional rival da poesia
E que , nessa senda,
até a sentença injusta
é e para sempre será
uma visita inevitável
Prometi só então
nunca mais negar o poema.