Minha Terra
O canto dos passarinhos tão de perto
O barulho da água que chega até à bica
O perfume tranqüilo de uma casa que é meu ninho
As portas e janelas de madeira
O telhado
O teto, esse forrado de taquara
Sempre tudo isso me acompanha
Até mesmo as cruéis testemunhas
Ma, ao mesmo tempo amigas, cúmplices
De todas as verdades
Ditas e não ditas
Vividas ou não vividas:
As rotas e gastas
Sábias janelas de madeira.
Mas tem o fogão de lenha
A espingarda na parede pendurada
A parede pintada com a tinta da terra
Da minha terra.
A chuva caindo lentamente
A ternura das gotas d'água sobre as folhas
As mimosas flores
Os sapos a cantarolar seu canto estranho
Que me remete a tudo
Ao princípio de minha vida
Ao decorrer da mesma
Ao decair das lágrimas.
E o cheiro desse lugar, da minha terra?
Uma ternura doída
Uma nostalgia
Uma vontade de voltar a ser criança
E a noite brincar de passa-aliança.
Meus avós
Na garganta um nó
Meus amigos, meus tios, meus familiares
Distantes de meus olhares
Porém, presentes, sempre
Construindo, modificando minha vida
Que ali começou
Que ali de mim tudo ficou.