INFÂNCIA REVISITADA

Voltei ao sitio fagueiro,

onde a infância vivi

ao longo de tantos janeiros.

A casa é a mesma, ainda,

rodeada de varandas,

só não parece tão linda.

O tempo inclemente

deixou marcas de abandono

na fachada decadente.

O sítio foi loteado

raleando o que existia

de marcas do meu passado.

Olho em volta com tristeza

procuro, em vão, a roseira,

e nem sombra da alteza.

Tampouco do jasmineiro

junto à varanda plantado

que exalava doce cheiro.

Ao redor, tudo mudado,

mato inclemente cobrindo,

o terreno abandonado.

No pomar onde as fruteiras,

foram com amor plantadas

só existem as jaqueiras.

Nosso campo de pelada

deu lugar a uma fábrica

bem na beira da estrada.

A cisterna, nem vestígio,

foi lá que escondi às pressas

meus livros "subversivos".

Também vi, no mesmo rumo,

a área onde cultivei

u'a malhada de fumo.

Era perto do curral,

de lá se tirava o estrume

pra adubar o milharal.

Mas a mata, que surpresa,

permanece preservada

conservando a natureza.

Onde era a minha escola,

bem em frente dessa mata,

hoje é a Emater que controla.

Parece que ouço agora

as vozes dos operários

amigos da minha aurora

Eram Ulisses, Felix e Louro

a véa Silvina, Nane,

e o véi Benedito, um mouro.

Trabalhavam com ardor

na lavoura fumageira

tendo o meu pai por feitor.

Olhei tudo por inteiro,

o que mais me emocionou

foi o flamboyant vermelho.

No seu tronco, com fervor,

gravei as iniciais

daquele primeiro amor.

A árvore debilitada

pela ação de parasitas

é uma peça ultrajada.

Procurei com emoção

nos galhos, dependurado,

vestígios do coração

Onde as iniciais gravei,

da menininha querida,

mas nada, nada encontrei.

Talvez, com boa vontade,

as rugosidades do caule

sejam as marcas, na verdade.

Com essa idéia na cabeça

encerrei minha visita

naquela manhã de terça.

Os anos passaram, sei,

mas como seria fantástico

viver a infância outra vez.