O PRETO 'BÕ-BÕ-BÕ'

O PRETO BÔBÔBÔ

- LÁ VEM BÔBÔBÔ!

(este era o seu nome)

Gritavam os meninos da Rua do Boi

Que não tinham medo dos bois da cara preta,

Bois condenados à morte, que passavam

Para a “matança” e que inspiravam alguém

Para fazer cantiga de ninar que dizia:

“boi, boi, boi,

boi da cara preta,

vem pegar este menino

que tem medo de careta!”

Os bois só sujavam de esterco mole

A rua do Aureliano Cândido,

Que os meninos nem sabiam

Que era o nome do publicista

Tavares Bastos.

Os meninos gritavam,

Com um medo danado,

- LÁ VEM BÔBÔBÔ!

Era um preto feioso, mas inofensivo,

De voz embrulhada,

Que nada falava, senão: bôbôbô...

Por isso o seu nome era aterrorizador

Até para criança que não queria dormir.

“Se não dormir, vou chamar Bôbôbô!”

Era um santo remédio,

Melhor que chá de erva-doce,

Para menino chorão, de barriga cheia

Que adormecia assustado

Com medo de Bôbôbô,

Que fazia lembrar

Um preto-velho d´Angola, ou da Guiné,

Fugitivo de senzala de algum engenho

De Pernambuco.

Quem sabe de língua cortada,

Por palavras e coisas obscenas

Sobre sinhá-moça, de seios arrebitados, talvez;

De ancas arredondadas, quem sabe?

De tudo que era belo e desejado

No corpo de sinhazinha, que ele tanto admirava?

E agora só podia dizer: “bôbôbô”...

Pablo Calvo
Enviado por Pablo Calvo em 10/12/2008
Código do texto: T1328065
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