O PRETO 'BÕ-BÕ-BÕ'
O PRETO BÔBÔBÔ
- LÁ VEM BÔBÔBÔ!
(este era o seu nome)
Gritavam os meninos da Rua do Boi
Que não tinham medo dos bois da cara preta,
Bois condenados à morte, que passavam
Para a “matança” e que inspiravam alguém
Para fazer cantiga de ninar que dizia:
“boi, boi, boi,
boi da cara preta,
vem pegar este menino
que tem medo de careta!”
Os bois só sujavam de esterco mole
A rua do Aureliano Cândido,
Que os meninos nem sabiam
Que era o nome do publicista
Tavares Bastos.
Os meninos gritavam,
Com um medo danado,
- LÁ VEM BÔBÔBÔ!
Era um preto feioso, mas inofensivo,
De voz embrulhada,
Que nada falava, senão: bôbôbô...
Por isso o seu nome era aterrorizador
Até para criança que não queria dormir.
“Se não dormir, vou chamar Bôbôbô!”
Era um santo remédio,
Melhor que chá de erva-doce,
Para menino chorão, de barriga cheia
Que adormecia assustado
Com medo de Bôbôbô,
Que fazia lembrar
Um preto-velho d´Angola, ou da Guiné,
Fugitivo de senzala de algum engenho
De Pernambuco.
Quem sabe de língua cortada,
Por palavras e coisas obscenas
Sobre sinhá-moça, de seios arrebitados, talvez;
De ancas arredondadas, quem sabe?
De tudo que era belo e desejado
No corpo de sinhazinha, que ele tanto admirava?
E agora só podia dizer: “bôbôbô”...