Felicidade destruída - Poema sertanejo de José Floriano da Costa

Nunca sai de meu sentido

Um ranchinho demolido

Que o vento derrubô

No interiô desse ranchinho

Já houve paz e carinho

Já viveu um grande amô.

E hoje no seu lugá

Resta um denso espinzá

E uns pau apodrecido

Ficô pra recordação

Espaiado no chão

Pra nunca ser esquecido.

Vô contá toda a história

Os momento de vitória

E também os de fracasso

Como diz o povo antigo

Que nasceu para mendigo

Jamais chega a ricaço.

O mundo é mesmo de morte

Só dá pra gente uma sorte

Por ele mesmo é tirada

No meu racho beira-chão

Eu ganhei o coração

De uma querida amada.

Terezinha era seu nome

Esposa fiel de um home

Que Deus do céu me mandô

E depois veio dois filho

Prá completá nesse amô.

Um amô sincero e puro

Que por Deus até eu juro

Nunca vi no mundo iguá

Mais o bão num dura nada

Como pueira na estrada

Que o vento leva pro á.

Todas as tarde eu sentava

No terreiro e abraçava

O meu pinho gemedô

E cantava meus versinhos

Prá Maria e o Joãozinho

E Terezinha, meu amô.

Mais essa felicidade

Veio a morte sem piedade

Carregô pra campa fria

A formosa Terezinha

Todo o ser da minha vida

Foi pra outra moradia.

Minha alegria acabô

O ranchinho enlutô

Mais ainda conformava

Porque tinha ao meu lado

O casarzinho adorado

Herança de que eu amava.

Mais a sorte é um negro vurto

Não tinha tirado o luto

Da esposa falecida

Veio otro gorpe tirano

Mais ainda enlutando

A minha tristonha vida.

Foi nun domingo cedinho

A Maria e o Joãozinho

Se brincava no terrero

Derrepente ouvi uns grito

Já fiquei bastante aflito

E corri num desespero.

Vi no chão os dois deitado

E ali junto a seu lado

Uma cobra venenosa

Era um urutú dorado

Com um tiro acertado

Dei um fim na criminosa.

Matei o urutú marvado

Mais os dois ficô picado

Veio a morte novamente

Visitá o meu ranchinho

Pra destrui o meu ninho

Levô os dois inocente.

Por chão frio e umidecido

Foi os dois filhos querido

Como foi a Terezinha

Foi pro reino da eternidade

Gozar a felicidade

Ao lado de sua mãezinha.

Agora só resta eu

Pois tudo que Deus me deu

Já foi por ele tirado

No mundo mesmo sem sorte

Vô viveno até que a morte

Vem dar fim em meu estado.

Léo Guimarães
Enviado por Léo Guimarães em 06/12/2008
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