DESABAFO DE CABÔCO
DESABAFO DE CABÔCO [poema)
(ONILDO BARBOSA)
1
Ah Dr. Cuma me dói
Arrescordá meu passado
Meu sertão de chão rachado
Pela seca arrinitente
Fica tudo diferente
No tempo da sequidão
É fôia seca no chão
Casa veia abandonada
Vacamorrendo atolada
Na lama do cacimbão
2
Num se avista nem anum!1
Dento do bosque esquesito,
Cabra, carnero, cabrito,
Morreno de um em um,
Menino magro doente,
E a mãe impaciente
Sem saber o que fazer,
E o pobre catingueiro,
Nos assêro do terrero,
Pedindo a DEUS pra chover.
3
Menina quage criança
Com o peito cheio de magua,
Vai ver se arruma água
Cum trez légua de distança
A muié magra coitada,
Guarda as panela imborcada,
Num girau véi da cosinha,
Os mulequim com emborná,
Correno atraz dum preá
Mode comer com farinha.
4
O sertanejo cabôco
Se embrenha nos tabulêro,
Intrupicano nos toco,
Pra ver se sarva um carnêro,
Que ta morreno de fome
Pois faz um mês que num come
Nem mandacaru tostado;
Só se avista flagelo,
E a morte com seu cutelo,
Matando gente adoidado.
5
Domingo dia de fera
É o maior sofrimento
O pobre pega uma cela,
Põe no lombo do jumento,
E sai caminhando à trote,
Passa riacho, serrote,
Tristonho, desanimado,
Vai falar com o budegueiro
Prá ver se sem ter dinheiro
Faz outra feira fiado.
6
Em casa a criança chora
Chega faz éco na serra
Gato mia, cabra berra,
A situação piora!!
Na rua o pobre se vinga
Enchendo a cara de pinga
Esquece o que ta passano,,
E a mãe em casa coitada
Consolano a fiarada
O dia inteiro esperano.
Quando ela perde a fé
Vai na casa da visinha
Pede um pouquim da farinha
Uma cuié de café
Cuma boa Mãe que é!!,
Amocoda a fiarada,
Sem durmir agoniada,
Vai pra porta ver a lua
Chega o marido da rua
Bêbado, com fome e sem nada.
8
Toda caatinga se cala
Parece qui nem tem gente
E a cauã impaciente
Cantano fora de hora
As porta das casa veia
O vento abrino e fechano
Num tem mais ninguém morano
Qui a seca boto pá fora.
9
O gado mago morreno
Vítima da seca assassina
Nem um galo de campina
Canta pá nós escutar
Só a coruja agourenta
Dá uns gemido na gruta
Toda vez que a gente escuta
Dà vontade de chorá.
10
O ipê roôxo num fulora
Tamburíl nem catingueira
Nas moita de quixabeira
Num tem mais anum mara
Donde os numbú de pé roxo
Cantava de tardesinha
E os bando de indurinha
Vinha se agazaiá.
11
A lua nasce branquinha
Iguá a casca de ôvo
Parece zombá do povo
Cada vez mais atraente
Os cadelim vira-lata
Detrás da porta ganindo
Parece qui ta sentindo
A dor que seu dono sente.
12
E os dr. Da política??
Nem óia pro cariri
Só fala de C.P.I.
Nesses ta de mensalão,
Chega na televisão
Mentindo de cara liza
Parece que nem precisa
Dos Matutim do sertão.
13
Será que esses deputado
Num vê qui foi n´s qui deu,
Que votou, que escreveu
No dia da inleição?
Com uns papezim na mão
Butemo lá o seu nome
E eles nem vê qui a fome
Ta devorano o SERTÃO.
Num ver mãe sentindo dor
Botar força pra parir,
E o fí sem quer sair
Pro que num tem mais sustança
Na agonia da fome
Nasce o fí de quarquer jeito
E a mãe sem leite no peito
Pra sustentar a criança.
15
É dr, Vc. Num sabe!!
Mas é bastante doido
Ver um animá caído
Passando a língua no chão
Quem já serviu de transporta
E atendia pelo nome
Dando gemido de fome
Sem um talo de ração.
16
É por isso que eu digo:
As vezes me dá vontade
De fazer uma mardade
Com meu tito de inleitor<<
Picá-lo bem miudim
Sacodir numa coivara
Criar vergonha na caara
E num votar mais nos doutor.
17
Será que com tanta briga
Tanta notiça de guerra
Deus num se esqueceu da terra
E abandonou o SERTÃO??
Se eu errar peço perdão
Mas acho que ta na hora
De argúem qui ta lá pro fora
Vim oiá mais pro sertão.
18
Será que deus ficou véi
E num sabe mais o que faz?
É que eu jaá pedi de mais,
E ele num me atendeu
Já rezei, já fiz premeça
Já li a briba todinha
Mode ver se achuva vinha
E inté aqui num chuveu.
19
Jesus cristo me perdôi
Mas é qui eu fico zangado!
Quando óio meu roçado
E vejo tudo se acabar
Vendo as panelas vazia
Uma maguameconsome
Vermeus fí morreno à fome
E eu num ternada pra dar.
20
Oiano a mata cinzenta
O campo todo pelado
O sol quente avermeado
Dá vontade de morrer!!
De hoje em diente eu só rezo
E só faço outra oração
Quando lá no meu Sertão,,
Vortá de novo a chuver.
FIM
ONILDO BARBOSA 05 de Abril de 2005
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