RELICÁRIO F...
Eram dias poucos aqueles
Eu os consumia em cacos de vidro
As horas roucas eu saboreava,
sorvendo todo o mel
Com íris memoráveis de inexperiente amante
Esta infinitude transgredia o íntimo
E complexas emoções me pleiteavam
Turva cabeleira se ocupava do sofá
A mente pulverizada de sonhos
E as letras me devoravam em prosa
Meu ser de puro viço transpirava
E as bonecas eram a platéia
De meus passeios galantes
em fluidas asas
Descobertas de coisas adultas em porcelana
Que além
eu descobriria serem chagas comuns
Meditativa eu me tornava abissal
Um ser configurado pela escrita
Banida de si mesma
Evadida
Estranhando o pulsar natural
Inconfundível
De quem vive
dentro de um espelho
Era miragem que não se via
Em semblante pálido de riso fresco
E mais profundo eu mergulhava
Etérea
Em ais pelos meus dias
Em ais pelo avesso
No entanto, desperta a esfera
Tenho minhas pétalas rubras
E finda, a moléstia-cura
Em presença de Eros, o rapsodo
E do fundo de olhos castanhos
Esfinge adornada de estrelas
De um corpo salgado
Maresia do orvalho
Eu me vejo cativa e abstrata...
Este repente
tomou-me os dias das letras
Posto que meu ser assim transpirava
E são dias intensos
Mãos sobre mãos
E são lâminas no olhar
Retinas coladas
E são beijos de chuva
Alma e saliva...
Paris, 2008