Fragmentos da infância
Fragmentos da infância
O arco de ferro
Bolinha de gude
O estilingue no bolso
Elástico frouxo
No ombro o embornal
Na volta da escola
A mãe preocupada
No meio da tarde
As pipas no céu
No chão a “pelada”
Com bola de meia
Já toda rasgada
Cuidado menino
Não quebre a vidraça
Do nosso vizinho
A rua de terra
De casas iguais
Os grandes quintais
Com frutas diversas
Com arvores de sombra
Onde dormem pardais
Cuidado menino
Não mexa nas frutas
Do nosso vizinho
A praça da igreja
È dia de festa
O velho realejo e o periquito
O mascate vendendo
Até gato por lebre
Termina a missa
O padre agradece
Mas antes convida
Pra grande quermesse
Vigiando as ovelhas
Já conta o dinheiro
Que a festa promete
Cuidado menino
O padre é devoto
Do nosso vizinho
Os dois namorados
Sentados no banco
A paineira faz sombra
Eles fazem projetos
Pensando besteiras
Gostoso é beijar
O banco da frente
Ostenta o cartaz
“Casa dos enxovais”
Cuidado menino
A moça é filha
Do nosso vizinho
A casa da esquina
No canto da praça
A grande varanda
Sem rede e sem flor
A moça bonita
Atrás da janela
De olhos distantes
Parece que anda
Carente de amor
O auto-falante
Na torre da igreja
De longe se ouve
Saudosas canções
Alguém oferece
Para dois olhos verdes
Um outro oferece
Para as moças bonitas
(Ninguém lembra das feias)
Mas para moça tão triste
Que espia de longe
Daquela janela
Ninguém se atreve
Cuidado menino
Ela é protegida
Do nosso vizinho