RELEMBRANÇAS

Relembro minha velha paineira,
Bem no alto da fazendinha*,
Da água cristalina a escoar da biqueira,
Dos harmoniosos vôos das andorinhas.

Relembro das desafinadas cantorias,
Nas noites enluaradas,
Das risadas – das correrias,
Dos sonhos que ficaram nas estradas.

Relembro do fogão a lenha, da fumaça,
Penetrando nos olhos e nas narinas,
Da divisão do pouco que se tinha com a graça,
De Deus e a luz de lamparina.

Relembro do capim molhado,
Da chuva torta que caia,
Das goteiras no telhado,
Do triste e doce olhar de Maria*.

Relembro do período escolar,
Da pequenina igreja,
Das flores silvestres a derramar,
Tons de melancolia benfazeja.

Relembro de tantas imagens no ar...
Momentos esquecidos... Jamais!
Mas, o tempo fez questão de apagar,
A imagem de um ausente pai.

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* Aglomerado da periferia de BH.
* Minha mãe