Bons tempos...
Sigo escrevendo meus versos
atropelando a gramática,
sem rimas, técnicas ou métricas,
mesmo sem ter qualquer prática.
Falo a linguagem dos excluídos,
meus irmãos de berço de serragem,
meu povão subnutrido,
que entendem minhas mensagens.
Tal quando vi a luz da vida,
sou despido de preconceitos ou vaidade,
simples como minha infância sofrida,
vou escrevendo minhas verdades.
Pena que o tempo passou voando,
levando meus lindos sonhos de menino,
minhas forças se esvaindo, meus cabelos prateando,
coisas de quem envelhece, marcas de todo destino.
Minha casa, meu quintal,
repleto de pássaros cantando,
as goteiras como contas de cristal,
em minha esteira bailando.
Meu cachorro vira-latas
o meu fiel companheiro,
rondando-me com suas magras patas,
como um valente guerreiro.
No silêncio das madrugadas frias,
ouvia o galo cantar,
ao longe outros tantos respondiam,
como um coral a me ninar.
E nas noites de Natal perdia o sono rezando,
colocava na janela meu sapato surrado e sofrido,
passava horas em vigília por Papai Noel esperando,
mais ele sempre perdia o endereço ou não entendia o pedido.
Sempre o perdoei porque é um bom velhinho,
talvez enxergasse pouco guiando seu trenózinho,
e assim só via as luzes das mansões de outros meninos...
Paasei toda minha infância desejando meu trenzinho.
Mais tudo isso faz parte de um passado distante,
hoje sou um internauta, globalizado e radiante,
nem sei o que isso significa, mais deve ser importante.
Porém confesso que daria tudo...para ser o que era antes.