AS PORTAS DOS SONHOS

Ali estava eu,
Dezessete embaraçados anos,
Algumas espinhas na cara;

Tentando encarar o breu,
Com a mente repleta de planos,
Resistente como um Che Guevara.

Eu; em meio aos operários,
Da (des)construção civil.

Sol ardente – concreto – mísero salário,
E uma pátria mãe nada gentil.

O canto dos pardais, o barulho dos motores,
O olhar piedoso da garota, o passo a passo.

As minhas mãos calejadas, as dores,
A constância absoluta do cansaço.

A hora do almoço, a vergonha de abrir,
A marmita com um pálido arroz, quase puro.

E ainda assim, conseguir,
Sonhar com um ameno futuro.

Aqui; hoje estou,
Um inquieto poeta de linhas incertas.

As marcas do passado o vento não levou,
Mas, as portas dos sonhos continuam abertas.