PORANGATU (cor)

(corrigido)

Porangatú, já se vê ao longe, sonolenta, dormindo

a margem de sua bela lagoa de águas esverdeadas ,

De coqueiros e árvores salpicadas;

Araras azuis de peito amarelo, ara-macaos,periquitos ,

Garças, branquinhas como o véu de noiva pura,

mas prontinhas para pecar de novo ,

vários pássaros com todas as cores do arco-íris e muitas mais ;

quadro repousante ,

da cidade trabalhadeira que também repousa.

Sacolejando na carroceria do caminhão "azeiteiro" Hércules ,

orgulho sobre rodas do progresso industrial ,

lá íamos nós embrenhando nas matas virgens ,

tomando rumo da Fazenda Novilho , onde meu pai ,

pioneiro em aventuras do nada ,

procurava agilizar aquele pedaço de terra ,

tornando-a produtiva .

Iria plantar arroz , capim ,

formar pastos , tudo tudo , em fim ...

No volante,

Sr. Pedro , chapéu de couro ,

velho caçador de animais e de ouro ,

ia tocando satisfeito o "possante" .

Bonachão de bombacho, cara de coruja .

Nas portas do veículo,

o nome de Casa Jaguatirica , em letras amarelas

e pretas sobre o verde escuro original ,

abaixo do desenho amarelo da dita cuja .

Comemos poeira por umas boas horas, até chegarmos

numa casa modesta, de pau-a-pique , onde seria nossa pousada ,

nosso tudo , dentro de coisa nenhuma ;

estávamos no meio do mundão de Deus .

Que dias lindos , esses dias meus .

João Ferreira , cabeça grande , olhos de genipapo ,

amigo de infância ,

filho do motorista ,

sonhava em ser artista ,

Durango Kid , Rock Lane , Roy Rorgers ,

personagens residentes em nossa fantasia .

Destas coisas que ficarão eternamente gravadas na memória,

de nosso passado , só de lembrar que alegria ,

é como se vivêssemos novamente a nossa estória ,

com a felicidade redobrada .

Um dia após chegarmos, fomos tomar banho de rio,

que beleza , água límpida e cristalina , via-se os peixes ,

as árvores frondosas ...

Ao mergulhar , calafrio .

Moleques , nadamos , largatixeamos ,

divagamos , sobre as aulas , as namoradas , os filmes ,

aquela zinha lá da pousada , morenaça ...

...Linda de viver e de se ver.

Sobre o Rio do Ouro e sua balsa,

travessia romântica e demorada , no cabo-de-aço ,

aquele mundaréu de águas verdes e barrentas ,

nas águas ;

Na seca , nada , um fiozinho dágua , uma poça aqui e acolá .

O sol a pino, quente, tropical ,

nos fez levantar das pedras ardentes a nos queimar .

Íamos dar mais um mergulho quando avistamos

do lado de lá do segundo rio , era uma barra fluvial ,

uma grande onça pintada , repousando ,

sobre as sombras das árvores frondosas e seculares.

( Mais tarde soubemos , não fomos molestados

porque ela havia sacrificado uma rês na noite anterior ).

Tremendo de susto corremos para a casa,

deixamos tudo para trás .

Sem olhar, sebo nas canelas.

Só fomos buscar as roupas e sapatos no outro dia,

bem acompanhados de um peão armado

com facas , espingarda , revolver , vários cachorros ,

malhados , amarelinhos , marrons , bernentos e muito carrapato .

Coisas do mato.

Passamos medo, nunca mais, naquele mundão de Deus

pude voltar .

Lembro-me do Cruzeiro do Sul,

espezinho ,

cintilante no céu azul .

Que saudade.

Goiânia, 23 de setembro de 1998.

J U R I N H A

jurinha caldas
Enviado por jurinha caldas em 17/09/2008
Código do texto: T1182340
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