COMO ANTIGAMENTE

Bem cedinho ela me acordava,
Beijava o meu rosto suavemente,
Cantarolando preparava,
Um café delicioso, *valente.

Longo caminho para o grupo escolar,
Pés ligeiros sobre a poeira ou barro,
No vai e vem da infância, um menino a sonhar...
Com um bom sapato, ruas de asfalto, um belo carro.

Na hora do almoço; almoço não tinha,
Mas, fazíamos a maior festança,
Misturávamos café na farinha,
E abastecíamos as panças.

De vez em quando eu surpreendia,
Mamãe no canto com os olhos marejados,
Ela se recompunha e dizia;
Não é nada meu filho, é só um resfriado.

Para amenizar o nosso sofrimento,
Mudávamos rapidamente de assunto,
Lançávamos palavras ao vento,
E logo amplos sorrisos se abriam juntos.

Hoje, após tantos invernos,
Somos bravos sobreviventes,
Adaptamos a um mundo louco, ultra-moderno,
E não sofremos como antigamente.

Constantemente me sobrevém uma vontade,
De retornar no tempo e reviver,
As aventuras da minha mocidade;
...Quem sabe eu goste de sofrer?
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*aqui em Minas, café valente é aquele cafézinho simples que vem sempre sozinho.