O forasteiro
Eu amei o Encontro dos Rios
Lá me encontrei por acaso do destino
Que me quis criança carioca, mas homem nordestino
Enxergo do alto as luzes da cidade verde
Que ganha ao pôr-do-Sol um tom âmbar, ambíguo
Com densos espaços negros entre os edifícios
As sombras dos cajueiros servem de abrigo
Para o brilho intenso e quente do qual me afugento
Em pleno fervor do meio-dia
E entretido na minha latinha de Coca-Cola
Vejo passos de belas moças que saem da escola
E por trás das fardas de tom azulado, algo oculto
Que é a vontade de se desnudar para refrescar
Se o congestionamento da Frei Serafim me irrita
E a bela moça a quem assovio me evita
Sinto-me um forasteiro na cidade que me cria
E crio para esquecer das mazelas, das magrelas, das velas
Que iluminam o sofrimento de um velório na casa ao lado
Quando sem querer abandonei a Guanabara, nada pude dizer
Se terra a que fui remetido mal iria me receber
No Aeroporto, o sorriso de rostos amigáveis que me aguardavam
Até que, de tanta cerimônia, passei a achar que o avião era a cegonha
E eu era um rebento, ao relento do Sol de Teresina
Meu futuro, mera perspectiva do que serei e aonde viverei
Não irá apagar as lembranças que esta terra me deu
Das amizades que nela pude desenvolver e manter
Eu sou fruto do romance astral e sorrateiro entre Piauí e Rio de Janeiro
Cá, se sou forasteiro, lá serei estrangeiro, visto que mais um, nada demais
Sou, se estiver longe de meus pais, e da paz.