O forasteiro

Eu amei o Encontro dos Rios

Lá me encontrei por acaso do destino

Que me quis criança carioca, mas homem nordestino

Enxergo do alto as luzes da cidade verde

Que ganha ao pôr-do-Sol um tom âmbar, ambíguo

Com densos espaços negros entre os edifícios

As sombras dos cajueiros servem de abrigo

Para o brilho intenso e quente do qual me afugento

Em pleno fervor do meio-dia

E entretido na minha latinha de Coca-Cola

Vejo passos de belas moças que saem da escola

E por trás das fardas de tom azulado, algo oculto

Que é a vontade de se desnudar para refrescar

Se o congestionamento da Frei Serafim me irrita

E a bela moça a quem assovio me evita

Sinto-me um forasteiro na cidade que me cria

E crio para esquecer das mazelas, das magrelas, das velas

Que iluminam o sofrimento de um velório na casa ao lado

Quando sem querer abandonei a Guanabara, nada pude dizer

Se terra a que fui remetido mal iria me receber

No Aeroporto, o sorriso de rostos amigáveis que me aguardavam

Até que, de tanta cerimônia, passei a achar que o avião era a cegonha

E eu era um rebento, ao relento do Sol de Teresina

Meu futuro, mera perspectiva do que serei e aonde viverei

Não irá apagar as lembranças que esta terra me deu

Das amizades que nela pude desenvolver e manter

Eu sou fruto do romance astral e sorrateiro entre Piauí e Rio de Janeiro

Cá, se sou forasteiro, lá serei estrangeiro, visto que mais um, nada demais

Sou, se estiver longe de meus pais, e da paz.

RAPHAEL BARBOSA
Enviado por RAPHAEL BARBOSA em 08/09/2008
Código do texto: T1167370
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